Quando o frio começa a dar sinais no Hemisfério Norte, os gansos selvagens do Canadá partem para o Hemisfério Sul, retornando somente no verão.
Em seu extraordinário voo geométrico, no formato da letra “V”, o bando consegue fazer a rota mais curta sempre seguindo o Sol. E tem lógica, pois é pela ameaça de sua falta que estas aves partem para outros pagos.
Cientistas e observadores do comportamento animal descobriram que são muitos os detalhes interessantes nesta viagem dos gansos. Tantos, que este voo cheio de estilo foi e ainda é tema de muitas palestras motivacionais.
Na formação em “V”, os gansos reduzem o esforço individual para cortar os ares. Um deles vai à frente, liderando os demais, mostrando o caminho e enfrentando o vento de frente, diminuindo sua força para os demais. Faz o trabalho de quebra-vento, mas não durante toda a viagem, pois não aguentaria. Um revezamento espontâneo vai acontecendo: quando o líder cansa, outro de mesma capacidade assume o posto. E assim, conseguem todos voar mais tempo, dividindo responsabilidades e assumindo, cada um, as diversas tarefas do grupo.
Antes da troca de um quebra-vento por outro, os gansos de trás, ao perceberem que o cansaço começa a se abater sobre o líder, grasnam e grasnam, certamente como forma de encorajá-lo a manter-se à frente do grupo, também como manifestação de agradecimento pelo esforço do enfrentamento do vento.
Desta maneira, bandos de gansos rasgam os céus, procurando outros verões, um por todos e todos por um, seguindo a máxima dos três mosqueteiros,
Muitas vezes, porém, apesar da aerodinâmica e do espírito de equipe, contratempos acontecem pelo exaustivo caminho. E quando um dos integrantes do grande “V” dessas viagens sofre algum ferimento ou é acometido por doença e precisa abandonar o grupo, outros dois o acompanham, procurando ajudá-lo. Quando atingem este objetivo, os três se integram a um outro voo, de outro grupo, até reencontrarem aqueles com os quais deram início à viagem, para então se reintegrarem.
Desta forma, acontece o voo dos gansos selvagens do Canadá quando partem para outro hemisfério, fugindo do frio.
É nesta espetacular viagem geométrica, em formato de “V”, socializando tarefas, incentivando seus condutores, assumindo diversas responsabilidades individuais e em grupo, solidarizando-se com os que precisam, recebendo-os de volta, dando abrigo aos que pertencem a outros grupos, que os gansos nos dão importante aula de boa convivência e cooperação, de reconhecimento e superação.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 17/9/21.