Bestas e Hienas Brasileiras

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Outro dia escrevi sobre um austríaco, Otto Adolf Eichmann (1906-1962). Um nazista que nunca matou ninguém, mas era um dedicado operário de Hitler como organizador do transporte de judeus rumo aos campos de extermínio. Hoje vou por um caminho semelhante, porém diferente: tal qual Otto Eichmann, Irma Greese foi uma alemã considerada como uma das mulheres mais cruéis e infames da história da humanidade.

Mas, afinal, quem era e o que fazia esse monstro? Pois bem, aos 13 anos, Irma ficou órfã de mãe suicida. Muito cedo foi expulsa da escola pela forma agressiva como reagia aos ataques de bullying que sofria dos colegas. Aos 15 e sob a contrariedade do pai e da irmã, largou os estudos e mergulhou naquilo que era a sua obsessão: a Liga da Juventude Feminina Alemã. Três anos depois, se alistou como voluntária para trabalhar num campo de concentração nazista exclusivo para mulheres, em Ravensbrück, próximo a Berlim; e no ano seguinte, foi transferida para Auschwitz, na Polônia. A saber: esse, o maior e mais cruel complexo de concentração criado pelo holocausto.

Dedicada ao extremo nas suas tarefas, subiu rapidamente na hierarquia nazista tornando-se supervisora sênior, o segundo posto mais alto que uma mulher poderia ter dentro da SS, o esquadrão especial de proteção à Hitler no exército alemão. As atrocidades de Irma Greese, inclusive, são muito bem documentadas. Para o terror dos prisioneiros – em sua maioria judeus e que a chamavam de ‘a hiena de Auschwitz’ – ela andava sempre com botas militares, uma pistola na cintura e um chicote nas mãos. Assim, participava ativamente da seleção de prisioneiros para o extermínio nas câmaras de gás, além de conduzir experimentos médicos – e absurdamente cruéis – nas suas vítimas. Costumava extravasar seus hábitos de violência e sadismo, ao golpear mulheres, crianças e idosos sem motivo aparente. Seu fiel escudeiro era um cachorro pastor alemão, treinado para avançar contra os prisioneiros que estavam na hora e no lugar errado. Muitos morriam em decorrência do ataque.

Sua “carreira” sádica, enfim, se encerrou no campo de concentração de Bergen-Belsen, onde a sua extrema crueldade lhe rendeu um novo apelido: ‘a Besta de Belsen’. Em dezembro de 1945, aos 22 anos, foi a mulher mais jovem a ser condenada à pena de morte por enforcamento pelas leis britânicas no século XX. Até seus últimos minutos de vida, conversava e ria com colegas de cárcere, totalmente desinteressada no destino que se aproximava. Ao seu executor, apenas disse: “seja rápido!!!”

Por quê contei essa historinha? Porque o Brasil também tem suas hienas e bestas mas que, diferentemente de Irma Greese, passeiam tranquilamente pelas ruas do país. Me refiro especificamente a três delas: Suzane Von Richthofen (mentora intelectual da morte dos pais), Anna Carolina Jatobá (coautora do assassinato da enteada) e Elize Matsunaga (que executou e esquartejou o marido). Mesmo que perante à justiça brasileira elas tenham cumprido o prazo mínimo de prisão em regime fechado, hoje vivem, circulam e se divertem como pessoas comuns (inclusive frequentando praias badaladas e eventos sociais); como se nunca tivessem cometido qualquer tipo de crime. Exceção à badalação seja feita à Elize Matsunaga – cujo marido assassinado era herdeiro de um dos maiores grupos alimentícios do país – e que agora ganha a vida como motorista de carros de aplicativo, em Franca, SP.

Estou ciente que receberei alguns e-mails, principalmente de amigos e leitores identificados com à esquerda e com os direitos humanos, me caracterizando como favorável à pena de morte. Nesses três casos, especificamente – e em tantos outros que em algum momento posso argumentar mais detalhadamente – sim. Eu sou mesmo.

Daniel Andriotti

Publicado em 8/3/24

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