A Natureza das Mulheres

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Oito de março de 2006 é uma data emblemática em minha vida. Naquele Dia Internacional da Mulher, de maneira consciente e inequívoca, permiti que minha natureza feminina assumisse seu devido espaço na decisão que me restaria tomar. Foi quando despertei para a realidade e decretei o fim de um tempo de ilusões e ingenuidade política.

Naquele dia fatídico, o viveiro de mudas da Aracruz (hoje, CMPC), em Barra do Ribeiro, foi barbaramente atacado por um grupo de mulheres esquerdistas que acharam por bem assim comemorar a data. Destruíram estudos botânicos que precisam de tempo e paciência para obterem resultados.

Escolhi o texto que segue, publicado neste espaço dezoito anos atrás, pela atemporalidade que carrega em si mesmo. Porque sou professora e acredito no conhecimento. Também para exercer respeitosamente minha liberdade de expressão, que considero de valor inestimável, especialmente neste dia de celebrar conquistas positivas.

“Pela manhã, entrecortando a beleza das rosas vermelhas e os cumprimentos afetuosos, notícias sobre o ataque aos viveiros de mudas e ao laboratório da Aracruz deram início à tomada de decisão que marcaria o meu dia.

Certificada sobre a barbárie, fiquei pensando naquelas pobres mulheres, as agressoras. Ludibriadas, quem sabe, por ideias de igualdade e ousadia, abortaram, além de milhares de novas plantas, o conhecimento que foi construído, passo a passo, por homens e mulheres que se dedicaram à pesquisa em benefício de todos nós.

Lamentei por elas, aquelas equivocadas mulheres, que agiram contrariando sua própria natureza, num raivoso ataque a si mesmas. Senti vontade de chorar.

Mas as lágrimas brotaram com a tristeza da funcionária responsável pela construção daquele ambiente de estudos. Atordoada, aquela outra mulher não sabia exatamente o que dizer. Perplexa com as outras, chorou, apenas.

Choramos juntas, por alguns instantes, sem sabermos nada uma da outra. Pranto sintonizado pela ausência total de respeito ao próximo, desumanidade que pensávamos existir apenas bem longe daqui.

Uma aura de nostalgia me envolveu. Reagi, porém, àquele sentimento de impotência que começava a criar raízes. E optei pela celebração do meu dia com um resgate à coerência.

Oito de março de 2006, Dia Internacional da Mulher, início de tarde, depois de uma manhã tumultuada, fiz uma caminhada solitária e consciente até o Fórum da minha cidade. Cumprindo ordens também do meu abalado coração, protocolei pedido de desfiliação do partido de esquerda no qual acreditava, dezenove anos depois de ter ingressado, cheia de esperanças.

Saí de lá com a sensação do dever cumprido. E seguiremos, eu e aquela funcionária que teve seu laboratório destruído – quem sabe tantas outras mulheres como nós – reconstruindo o que foi perdido. Porque esta é a verdadeira natureza das mulheres”.

Neste oito de março de 2024, Dia Internacional da Mulher, de maneira consciente e inequívoca, desejo que todas nós tenhamos clareza a respeito da nossa verdadeira natureza feminina. E sigamos sempre a favor da vida.

Cristina André

Publicado em 8/3/24

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