A Sofrência da Degola

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Até o início da noite da última segunda-feira eu tinha convicção de que o imortal tricolor não cairia para a série B do futebol brasileiro em 2022. Comentava com amigos, gremistas e colorados, que certamente a torcida iria sangrar até a última rodada mas seria impossível que entre 18 times, não houvesse pelo menos três inferiores ao do Grêmio, uma vez que uma das vagas ao rebaixamento já estava ocupada pela Chapecoense.

Quando o relógio marcou 21h55min de segundafeira – dois a zero para o dragão, apelido do Atlético Goianiense – eu já não sabia mais o que pensar, nem o que dizer. O Grêmio tem um plantel caro e de qualidade razoável. Alguns jogadores acima da média, inclusive, para os padrões atuais do futebol brasileiro e sul-americano, como é o caso dos dois jovens goleiros; e de Douglas Costa, Rafinha, Jean Pyerre, Vanderson, Campaz, Ferreirinha, entre outros. O clube possui uma estrutura como poucos ostentam na elite do futebol mundial. E até onde se sabe, dinheiro não falta. Então, qual é o problema?

Essa é a pergunta do milhão. Sai treinador, vem treinador, troca vice de futebol… e o vestiário segue tenso. Dentro das quatro linhas, a bola chutada pelo ataque tricolor não entra na casinha. A do adversário, por sua vez, desvia em alguém e engana o goleiro ou vai bater na mão de um zagueiro dentro da área. O VAR também não está ajudando como em épocas anteriores. Será falta de sorte? E o 5 de dezembro chegando, o campeonato se esvaindo e a pontuação do Grêmio na tabela segue sempre a mesma a cada nova rodada, insuficiente para que o imortal saia da zona da degola.

Estatística, como dizia Nelson Rodrigues, é igual a biquíni: mostra tudo menos o essencial. Se você está lendo esse texto antes de domingo, saiba que o Grêmio tem 58% de chance de cair. Isso é preocupante porque Sport, Bahia, Santos e Juventude também disputam essas últimas três vagas da degola, porém com um risco levemente menor, embora o imortal tenha dois jogos a menos que esses seus concorrentes de sofrência.

Nos últimos três anos, 43 pontos bastaram para escapar da foice no campeonato brasileiro da série A. Dessa vez, a régua está um ponto acima. Portanto, dos 38 pontos que ainda estão por vir, o Grêmio teria que somar algo como 18 aos míseros 26 que tem. E os confrontos são contra Palmeiras, Inter, Flamengo, Fluminense, São Paulo, Corinthians e o líder Galo, duas vezes. Além dos menos ameaçadores América-MG, Bragantino, Bahia e a já rebaixada Chape. O problema é que até agora, o Grêmio perdeu o dobro de jogos que ganhou: 14 a 7; e empatou cinco. Isso lhe confere um aproveitamento de 33,3%. A partir desse final de semana, vai precisar de um desempenho próximo aos 50%, coisa que ainda não conseguiu desde o início do campeonato, lá em maio. Caso contrário, ano que vem irá fazer companhia a Vasco, Cruzeiro, Guarani, Ponte Preta, Sampaio Correa, CSA, Náutico, Vila Nova, Chape e… talvez, seu grande amigo Juventude.

Tudo isso são suposições porque a partir de agora cada rodada revela diferentes interesses. Tem os times que vão pagar mala branca e os que vão receber mala preta. Tem adversário que não chega mais a lugar nenhum e tem adversário preocupado em poupar seus jogadores para as finais da Copa Libertadores e da Sul-americana. Por isso, ao invés de biquínis, essas estatísticas são praticamente uma bermuda do umbigo até o joelho: esconde tudo e mais um pouco.

E o Inter? O título do ano será o rebaixamento do arqui-rival? É muito pouco. Eu não suporto mais ver esse futebol medíocre do colorado. Toque para o lado, para trás. Erra o passe. Atrasa pro goleiro. Reclama do juiz. Vai expulso. São doze anos do mesmo jeito de jogar, a mesma postura, o mesmo comportamento. Um desânimo. Uma falta de vontade de vencer. É endêmico, enraizado, institucional. Se isso é ser feliz com o futebol, então realmente entendo nada desse esporte…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 29/10/21

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