The dream is over

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Era uma vez, em Liverpool…

Lá se vão 55 anos que os Beatles tocaram juntos pela última vez, ao vivo. Trata-se da antológica apresentação no terraço da gravadora Apple, naquela fria e cinzenta tarde de 31 de janeiro de 1969, em Londres. Um pouco antes ou um pouco depois, Lennon já havia profetizado: “the dream is over”. Algo como “o sonho acabou”. No ano seguinte ainda gravariam algumas composições em estúdio eternizadas no LP Abbey Road e no derradeiro Get Back, que virou Let It Be.

A ruptura da mais famosa banda de todos os tempos não é algo tão simples assim de ser contado em poucas e mal traçadas linhas. Merece um texto muito mais poético, que não será o caso desse aqui. Mas as muitas biografias sugerem, ao longo de mais de meio século, que o principal pivô do fim do grupo teria sido a ressaca da beatleamania. O quarteto chegou à conclusão que não dava mais para fazer shows diante daquela loucura toda. Isso porque o que menos importava para – sobretudo ‘as fãs’ – era a música. O comportamento agressivo do público a qualquer hora e em qualquer lugar foi minando o humor do grupo. Nos shows, o ruído ensurdecedor impedia que as músicas fossem ouvidas. Numa época de tecnologia escassa, os gritos histéricos extrapolaram a paciência dos fab four. Lennon resumiu numa entrevista que a trajetória da banda vinha perdendo o sentido pela dificuldade de audição daquilo que estavam tocando em cima do palco. Esse ‘desconforto’ já era manifestado desde o início das gravações do álbum Sgt. Pepper’s, de 1967. Verdade seja dita: o disco veio repleto de experimentalismo e trucagens. O próprio Lennon parece não ter gostado do resultado, reclamando que a vontade de Paul havia sido preponderante. As trocas de farpas entre Lennon e McCartney é outro capítulo à parte…

No entanto, os gostos antagônicos da dupla-líder, traduzidos em sonoridades distintas iria permear toda essa fase de turbulências agravando o abismo que havia entre o grupo, incluindo aí os outros dois, George Harrison e Ringo Starr, que procuravam abrir espaço para ascender da condição de coadjuvantes. Yoko Ono – uma artista plástica japonesa –  entrou na vida de Lennon logo após a sua separação com Cinthya, com quem teve o filho Julian. Aliás, no imaginário popular, Yoko também ficou conhecida como a pivô do fim dos Beatles. Depois de mergulhar nos muitos textos escritos sobre o assunto – incluindo algumas biografias “solo” dos integrantes – cheguei à conclusão que Yoko, uma iminência parda, pouco teve a ver com o desfecho final…

Mas John encontrou nela a musa inspiradora para aquele momento, oxigenando assim o seu fôlego de compositor. Tanto que se sentiu no direito de ter a sua cara-metade artística nos ensaios, deixando que ela tivesse voz ativa na influência de algumas canções, o que acabou por cortar a interação com os demais integrantes da banda que, por sua vez, estavam pouco se lixando. A exceção de Paul. Nessa época, George Harrison chegou a dizer que Yoko Ono, tinha mais moral do que ele nas decisões da banda.

Definitivamente Yoko não era o problema perto da disputa pelo protagonismo que buscavam, pelo menos dois, dos quatro integrantes. Mesmo assim, em 1969, um ano antes de jogarem a toalha, os Beatles conseguiram entrar em estúdio e criar algumas das melhores canções já feitas pelo quarteto. Tudo acompanhado de um filme que mostrava o ‘climão’ nos ensaios. Gostem ou não, os Beatles foram essenciais para o desenvolvimento da contracultura do mundo na década de 60. Protagonizaram uma das mais misteriosas e complicadas histórias de sucesso e de fim de romance do século 20. E também a mais triste delas.

Daniel Andriotti

Publicado em 2/2/24

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