O Amor dos Namorados

Enquanto houver namorados passeando pelas praças, ombros aquecidos de sol, mãos dadas, e nada for preciso dizerem um ao outro, estaremos todos a salvo.

Se for verdadeiro o amor que aparentarem, livre de julgamentos, desinteressado em posses e poderes, aliado das pequenas felicidades cotidianas, então teremos certeza da nossa sobrevivência. E a vida seguirá em frente, entusiasmada, iluminando-se dela própria.

No tempo dos casais apaixonados se encantarem com românticas histórias, contadas sob o luar, em livros e filmes, emocionando-se pelos finais enfeitados de ternura e delicadeza, é certo que resistiremos, todos, às dores desse mundo.

Se desfrutarem de companheirismo, sentirem que finalmente conquistaram o sonhado destino, deixarem de lado o dia a dia de descrença no afeto, será hora de respirarmos aliviados, suspirarmos de contentamento, pois o amanhã virá.

Enquanto houver olhares se encontrando, se entendendo pela música, e os versos se repetirem feito acalorado discurso, batimentos se acelerando pela simplicidade de uma presença, continuaremos acreditando que amar pode salvar o universo, que é nossa missão possível livrá-lo dos ressentimentos, das vinganças, da ira.

Se os anos passarem e a poesia permanecer, insistindo em certas relações predestinadas, permitindo que amadureçam com sabedoria na rotineira jornada, de nada deveremos ter receio, tudo afinal continuará.

Nos dias em que amores antigos se renovarem, desfilando pela vida sua cumplicidade e seu contentamento, aguentando saudades, se conformando com lembranças, e seguirem entregando o melhor que tiverem, permaneceremos livres de avareza, rancores e desafetos, manteremos distância de certas infelicidades construídas, seremos mais fortes diante da angústia.

Se os que parecem viver um para o outro não o fizerem apenas na fachada, forem desprovidos de falsidade, acabaremos nos deixando levar por suas afetividades, tomaremos como exemplo a maneira que escolheram para levar a existência.

Enquanto existirem namorados se encontrando, anunciando em gestos que o afeto está em destaque, o futuro estará a nossa espera.

E se o que sentirem for verdadeiro, despojado de interesses outros que não seja a felicidade um do outro, então será possível sonhar com um mundo melhor, com a ternura vencendo a violência, os sorrisos contagiando carrancas, o romantismo alimentando a convivência.

E a vida seguirá em frente, esperançosa e entusiasmada, pelo amor dos namorados.

* Coluna publicada em 2013

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 11/6/21.