Chegamos ao final de mais um ano, o primeiro do terceiro mandato do presidente Luis Inácio – eleito pelo consórcio STF-TSE – num Brasil de pneus carecas tentando subir uma ladeira íngreme e coberta de lama. Quem acredita que estamos vivendo um bom momento político e econômico vive em Nárnia ou acredita em boa parte da imprensa brasileira, que assumiu definitivamente o jornalismo ativista e militante, abandonando de vez sua função de imparcialidade. Assim, curva-se ao papel de fazer propaganda escancarada de um governo que vai mal. E a falência do jornalismo ético só interessa a quem despreza a liberdade. A imprensa faz isso sabe-se lá a que custo, mas aponta uma certeza: a de quem vai pagar a conta!!!
O ano que ora se encerra não teve pandemia, é verdade. Mas teve enchentes, desmoronamentos e ciclones extratropicais que, evidentemente, não são culpa do governo. Pelo menos, deste governo. No entanto, seguimos na falta de um plano de desenvolvimento econômico. Esse, por sua vez, fecha empresas e desemprega pessoas. Na política, seguimos numa polarização radical entre a extrema direita e a esquerda, sem possibilidades de conciliação a curto e médio prazos. Uma recente pesquisa realizada pela Genial/Quaest ouviu 2.012 eleitores agora em dezembro e constatou que, na opinião de 58% dos entrevistados, o governo Lula contribuiu para dividir o país. Nessa mesma avaliação, o presidente segue tendo o apoio majoritário dos entrevistados, embora em alguns casos, os dados mostrem ligeiro aumento da avaliação negativa. Sem consenso, não há desenvolvimento econômico e social em lugar nenhum do mundo. Sem maioria no Congresso, o presidente é refém da formação de maiorias ocasionais para a aprovação de projetos. O hoje “centro”, antes “centrão”, detém a maioria das cadeiras para a composição das decisões no Congresso. Com isso, segue dando as cartas na política no país do toma-lá-dá-cá.
Numa demonstração de que quanto pior a performance, mais alto é o emprego, o presidente premiou com um cargo na Suprema Corte um comparsa com as credenciais de ter recebido, em duas oportunidades, a “Dama do Tráfico” no seu gabinete enquanto Ministro da Justiça. Flávio Dino é possivelmente o mais extremista de todos os inimigos da liberdade e dos direitos individuais de um Brasil onde a esquerda fala em democracia a cada 10 segundos. Um Lula humanista, também pregou a necessidade de reforma da ONU e deu pitacos sobre guerras como a da Russia-Ucrânia e Israel-Hamas. Insistiu na tese de que os conflitos podem ser superados se ‘os brigões’ sentarem para conversar na cadeirinha da reflexão. Embora a defesa da paz seja elogiável, parece um pouco ingênua por vezes a ideia de que apenas uma boa conversa, bebendo uma cervejinha, serve para que a causa dos conflitos seja superada. Não é assim que funcionam as relações internacionais. Os países defendem os seus interesses e não apenas se apoiam em valores como o da defesa da paz.
Enfim, sendo otimista, o governo brasileiro ainda tem uma série de desafios pelo longo e árduo caminho de reverter os retrocessos sociais, econômicos e ambientais dos últimos anos – incluindo aí o período do seu antecessor e maior desafeto; além dos 16 do seu querido e amado PT. O que se viu nos últimos doze meses foi um excesso de viagens por conta de uma intensa – mas sem muita eficácia – agenda internacional do chefe e sua comitiva presidencial pelo mundo. Embora importante no contexto da retomada das relações institucionais, bastante prejudicada no governo Bolsonaro, a conta é demasiadamente alta para os padrões de um país de miseráveis num curto espaço de tempo. Por aqui, o que se ouviu muito foi a voz rouca de um Lula falando num palanque recheado de ‘convivas’ para uma mesma plateia de camisetas vermelhas; com destaque exagerado para a preocupação com a demarcação de terras indígenas e quilombolas. No mais, distribuição de verbas e mais verbas de um orçamento mega-estourado para comprar apoios no Congresso…
Mais do mesmo, portanto.
Feliz Natal, leitores e eleitores.
Daniel Andriotti
Publicado em 22/12/23