Marreta Digital

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Até bem pouco tempo a televisão tinha programas baseados nos horários mais atrativos para cada segmento de público. Por exemplo: num dia a criança assistia a TV Globinho; num curto espaço de tempo ela migrava para o Xou da Xuxa e, quando se dava conta, a adolescência lhe obrigava a ver Malhação. Isso porque quem assiste (ou assistia) televisão, independentemente da idade, acabava passando pela transição entre um programa e outro – muitas vezes sem perceber – trazendo para o seu mundo algumas informações que não pertenciam à sua ‘bolha’ cotidiana. Hoje, a banda não toca mais assim.

Nessa mudança de hábitos, muitas memórias de uma geração millenial se perdem – tanto na forma como no conteúdo – e acabam não trilhando um caminho linear até chegar a geração Z. Em tempo: geração millenial ou Y são os nascidos entre 1980 e 1995. A geração Z, veio ao mundo entre 1995 e 2010. Portanto, os millenial’s foram os últimos a conhecer ‘a vida sem internet’. E, por se tratar de uma geração considerada flexível às mudanças, viu ela nascer e globalizar o mundo, que se tornou mais veloz e com informações compartilhadas em fração de segundos. Por consequência, se tornaram ávidos pelos desafios e pelas transformações.

A geração Z já chegou num mundo digital e ‘on line’ a qualquer hora e em qualquer lugar. E, por integrar o futuro do mercado consumidor, possui grande poder de influência para ditar as regras de como as marcas devem se comportar. E isso, acredite, mudou radicalmente o cenário da publicidade mundial, principalmente com o surgimento dos ‘influencers’. As pessoas da geração Z são ágeis, multitarefas e capazes de absorver grande quantidade de informações num curto espaço de tempo.

Com o advento das redes sociais, um outro componente indispensável entrou nesse contexto: o algoritmo, até pouco tempo citado somente nas aulas de matemática, mas que agora invadiu o mundo digital. Trata-se de um sistema que muitas vezes é solução, mas em outras também é responsável por sugerir aquilo que não queremos ver apenas porque tem relação com algum interesse que a nossa necessidade já demonstrou. Ele, o algoritmo, ajuda a formar um ciclo vicioso que consiste em “quanto mais acesso àquele tipo de conteúdo, mais ele continuará alimentando o usuário”. Isso contribui para a abertura de um leque de opções que pode tirar o foco daquilo que realmente queremos, delimitando o acesso à verdadeira informação. Por exemplo: uma pessoa que consome conteúdos relacionados à saúde física, abre sua rede social e é banhado por uma enxurrada de vídeos sobre alimentação saudável e academias. Entretanto, graças ao algoritmo, os aplicativos criam “trends” (denominação para determinados conteúdos que consistem em imagens pessoais, mas com a mesma trilha sonora) e que, por vezes, acaba se tornando um conteúdo repetitivo.

Mas alto lá: as coisas não são assim tão cruéis. É através desse tipo de conteúdo que músicas lançadas nos anos 70, por exemplo, voltam e têm o poder de chegar às gerações Y e Z, ‘ressuscitando’ obras que por vezes foram esquecidas dentro de um LP espremido numa estante junto a tantos outros discos. E aí a rede social tem o poder de quebrar paredes geracionais. Em aplicativos como o “TikTok”, músicas lançadas na década de 80 voltam a ‘viralizar’ através das trends que, num universo não muito distante, você precisaria ‘catar’ num CD ou pedir que alguém lhe emprestasse o disco. Hoje é possível obtê-la num simples toque no Spotify. Portanto, é inegável que muitas vezes sofremos com o lado tóxico da internet. Mas é impossível que se ignore o seu papel na preservação e na conexão entre as gerações por meio da arte, seja ela pelos programas de TV que nem existem mais, seja naquelas músicas esquecidas nas ranhuras de um empoeirado LP.

Daniel Andriotti

Publicado em 12/1/24

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