Livres X Aprisionados

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Ouvi de muita gente conhecida que a maior de todas as diferenças entre nós, os seres humanos, encontra-se no padrão socioeconômico em que nos encaixamos; se pertencemos à classe baixa ou alta, se estudamos em escolas populares gratuitas ou em colégios renomados e caros, se as pessoas em geral nos consideram pobres ou ricos. E que o tamanho e a sofisticação das nossas casas, o carro novo, os pontos dos brilhantes de cada joia e as grifes no guarda-roupas nos classificam definitivamente.

Mas não é isso que nos une ou nos separa.

Já ouvi também que a raça pintada em nossas peles, de cores e tons diversos, é responsável pela mais profunda segregação, que nos divide em esperançosos entusiasmados e derrotados sem oportunidades; em prósperos e esquecidos pelo mundo. Talvez pensem, os defensores desta tese, que o tom uniformizado de nossa cútis seja capaz de acabar com as desavenças humanas.

Tenho certeza de que estão enganados.

Muita gente também afirma que a diversidade de crenças religiosas só faz criar discórdias, é a verdadeira responsável pelo afastamento uns dos outros, provocando conflitos rotineiros e até guerras. E que o isolamento em grupos se dá, neste mundo criado por Deus, justamente pelos nomes que damos a Ele, pela forma como fazemos nossas orações.

Discordo, porque boas orações fazem bem a todos.

São muitas as teorias sobre diferenças que nos apartam. Há quem nos separe em criaturas do ocidente e do oriente, analfabetos e intelectuais, feios e bonitos, gordos e magros, capitalistas e comunistas, altos e baixos, espertos e bobocas, heróis e bandidos. E os que acreditam em divisionismos pela coragem e o medo, o nervosismo e a tranquilidade, os velhos e os jovens.

Contudo, não são estas as razões.

Mas é verdade que vivemos divididos em dois grupos bem diferentes, cheguei a esta conclusão faz algum tempo. Não pela raça, a religião ou o partido político; nem pelas finanças, a instrução ou o lugar onde moramos. Foi pela observação pacienciosa da existência, com suas coerências e seus vieses, que finalmente compreendi: nossa segregação acontece entre os que são livres para defender suas ideias, questionar e ouvir os contrários, na defesa de todos, e os aprisionados em teorias engessadas pelo tempo, que não se permitem o simples debate do contraditório. Pelo compromisso com a verdade, seja de que lado for, ou na defesa da narrativa única, mesmo sendo falsa; pela sinceridade contra o cinismo, a emoção em contraponto à indiferença.

Estamos entre livres e aprisionados, eis nosso grande divisor de águas.

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 24/11/23

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