Parece que se deu de uma hora para outra, mas já faz bom tempo que paciência e tolerância começaram a trincar, certamente como reação adversa ao modelo social e afetivo da nova ordem artificial que estamos criando. Como placas tectônicas vigorosamente ligadas, essa dupla de atitudes nos garantia relativa segurança emocional diante de situações contrárias ao nosso gosto, harmonizava a existência, guardando nossos corações em terreno firme. Sobretudo, fazendo-nos aceitar a condição humana como ingrediente saudável e natural.
Mas o mundo, agora, é diferente. Pessoas com inteligência tecnológica avançada se ocupam, em tempo integral, com a invenção de métodos que nos desconectem da nossa própria natureza. Criam vidas paralelas de mentirinha para nos distrair, passatempos virtuais para nos mantermos desconectados de tudo que possa ter ligação com a realidade.
E se abrem diante de nós, a todo momento, freeways mentais e afetivas que aliciam ao mundo de adoração à inteligência artificial. Que, vejam só a incoerência, está se transformando em poderosa senhora de escravos naturais.
Vida no rumo das faceirices momentâneas e artificiais, fazendo-nos acreditar que somente assim será possível construir felicidade verdadeiramente humana.
Eis a nova ordem mundial, espalhafatosa em proibições. Nem pensar em passar algumas horas sem novidades que abalem estruturas, em permanecer calado diante de quem para e se dispõe a ouvir contrapontos, no combate intenso e contínuo à calmaria. Se a realidade carece de diversão, criam-se passatempos virtuais; se as pessoas têm muito a dizer, acelera-se as falas.
Parece que se deu de uma hora para outra, mas já faz bom tempo que paciência e tolerância começaram a trincar. E essa reação adversa, feito placas tectônicas vigorosamente ligadas, ao se desprenderem de corações e mentes, poderão se fazer tsunamis incontroláveis.
Todo cuidado é pouco neste processo de adoração da Inteligência Artificial (IA), uma criação da inteligência natural dos humanos. Pois sendo notória a existência de Ignorância Natural (IN), provavelmente elas já tenham firmado sólida parceria sem que tenhamos percebido.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 16/2/24