A celebração dos 53 anos da Biblioteca Pública Municipal Darcy Azambuja, que aconteceu no dia primeiro de abril, foi um evento dos mais importantes para os guaibenses. Sobretudo nestes tempos de escantear livros, beneficiando o desaprender da leitura e da escrita.
Levando para a terminologia do universo esportivo – neste caso específico, do futebol – foi um escanteio bem cobrado, que abriu o placar em favor da educação, da cultura em geral, da criatividade e das emoções presenciais positivas. Com a essencial participação de estudantes e professores, e da trilha sonora com gaita-ponto, clarinete e violoncelo.
Tenho um carinho especial pela nossa Biblioteca Municipal. Mais do que isso, profundo agradecimento à própria vida por ter sido meu primeiro emprego, lá se vão boas décadas. Com as professoras responsáveis pelo atendimento, Catarina Lewandowski e Ana Maurícia Rech, prestes a entrarem de férias, eu assumi aquela silenciosa casa de livros.
Verdade seja dita, aos dezessete anos, comemorando conclusão do segundo grau e ingresso recente na universidade, passei janeiro e fevereiro, meus dois primeiros meses de trabalho, atendendo poucas pessoas na Biblioteca. Era uma Guaíba pequenina, de escolas fechadas no verão, e eu tinha todo o tempo do mundo para ler – e foi exatamente o que fiz naqueles dias de absoluta calmaria interiorana.
Passeando pelas estantes, arrumava livros, lia títulos, orelhas, prefácios, dedicatórias, imaginando quais histórias estariam sendo contadas. Até que se dava o encontro mágico entre um dos livros e o meu interesse. Assim, andando pelas breves avenidas da Biblioteca, fui apresentada a diversas obras de autores que ainda eram desconhecidos para mim, entre as quais Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley; 1984, de George Orwell; O Exército de um Homem Só, de Moacyr Scliar. Nunca mais parei de ler.
Muitos anos já se passaram desde o meu primeiro emprego, que intercalava momentos de leitura tranquila e solitária com outros de criançada em alvoroço precisando de ajuda para os trabalhos escolares. Entre as boas lembranças, a pesquisa cuidadosa que fizemos, eu e a Ana Maurícia, intitulada “O Brasil e Seus Ministros”, que as professoras pediam e não se encontrava em livros. Naqueles dias sem internet, por meio de pesquisas em jornais de grande circulação, montamos uma espécie de polígrafo sobre o assunto, auxiliando muitas crianças. Recompensa em abraços e sorrisos.
Na bonita e prestigiada celebração dos 53 anos da Biblioteca Pública Municipal Darcy Azambuja, que aconteceu no dia primeiro de abril, organizada e conduzida pela coordenadora Irlanda Gomes e a bibliotecária Tatiana Mayer, o escanteio à leitura foi bem cobrado por elas.
Com a essencial participação de estudantes e professores, contando até com trilha sonora de gaita-ponto, clarinete e violoncelo, a Cidade marcou um golaço em favor da boa educação, da cultura em geral, da criatividade e das emoções presenciais positivas.
Cristina André
Publicado em 5/4/24