Uma pesquisa no Lago Crawford, em Ontário, no Canadá, é o marco da confirmação do início de uma nova época geológica na Terra: Antropoceno. É a época que desnuda a intervenção humana na sobrevivência de Gaia. Há evidências claras nos noticiários pelo mundo, como temperaturas recordes; tempestades fatais se reproduzindo rapidamente e assim vai. Muitos olham e não veem!…
Tive um sentimento de “Déjà vu” (já visto). Nesses doze anos de Gazeta, abordei esse tema várias vezes. As “tragédias anunciadas” estão cada vez mais frequentes, mais intensas e fatais. E a cegueira?! Cada vez mais firme!
Não aguento mais!… Estou surtando com a “violência das violências”, que é a destruição do futuro da humanidade em prol do lucro. Não aguento mais ver os “atingidos”, perplexos, incrédulos, impotentes, vendo seus sonhos, suas vidas, evaporarem na água, na lama, nos “ciclones” da vez.
“Déjà vu”!… Há muito tempo estamos vendo e revendo imagens sobre tempestades que se intensificam em frequências e intensidades, impondo cada vez mais danos econômicos, sociais, ambientais e à vida no planeta Terra.
Estamos olhando, sem ver!… Segundo a Organização Mundial do Clima, passamos para a “Era da fervura”. As consequências: É óbvio!… Colapsos da vida no planeta.
Queria falar de outra coisa. Mas como?!… Não posso ficar calado!… A cegueira coletiva bloqueia o olhar e a visão. Volto com Saramago e o Ensaio sobre a Cegueira, pois ele sempre surge no meu imaginário quando “assisto” à reação do planeta à estupidez humana. A cada releitura do livro, mais emerge a incapacidade da humanidade em “olhar, ver e reparar”. Vejo e reparo o egoísmo, o medo, a covardia e o “ódio” à própria vida. Isso é real e atual.
A cegueira social leva à alienação do homem em relação a ele mesmo. Vivemos uma “doença coletiva” que se transforma em epidemia. O fato de não enxergar nada, implica em não perceber o que precisa mudar e, assim, nada muda. A civilização quebra regras e extravasa seu lado obscuro na busca da sobrevivência, onde aquele ditado, “quem pode mais chora menos” toma conta das pessoas.
Essa cegueira está bem do nosso lado, no dia a dia. Está em todas as partes. Vejam nossa “aldeia”: Estamos à deriva, por conta dos interesses “difusos”, onde assistimos à ocupação do solo com um planejamento amparado num Plano Diretor que caducou há mais de década. É terrível!…
Guaíba está “brincando” com problemas futuros ao não ter cuidados com a proteção das áreas úmidas e de drenagens naturais. Diagnósticos e prognósticos é que não faltam para alertar sobre prováveis colapsos na cidade.
E o Parque Municipal Morro José Lutzenberger?!… Uma luta que iniciou nos anos 70 e culminou, graças à combativa AMA, com o Decreto de 04 de dezembro de 2013, assinado pelo então prefeito Henrique Tavares.
Até hoje não foi usada a verba disponível das medidas de compensação ambiental da “celulose” que, pela garra da AMA, foi assegurada uma “esmola” para Guaíba. Faz mais de uma década! É incompetência? É descaso? Qual é o fato?
“Queres que te diga o que penso… Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem” (Saramago).
Túlio Carvalho
tulioaac@gmail.com
Publicado em 4/8/23
Cadê você, amiguinho?
Um abraço, sem chuva.