Rubro, negro e rico

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Em 2019, o último ano ‘normal’ e decente do resto de nossas vidas, o Flamengo conseguiu a façanha de vencer o Campeonato Carioca, a Copa Libertadores, o Campeonato Brasileiro e ser vice do Mundial Interclubes na mesma temporada. Desde o Santos de Pelé, na década de 60, que isso não acontecia.

Hoje o Flamengo não joga mais ‘aquele’ futebol de 2019, mas ainda é muito acima da média dos demais times brasileiros. E por que esse Flamengo virou uma supermáquina de jogar futebol, que se traduziu em vitórias e títulos? Sorte? Maior torcida do Brasil? Apoio irrestrito da Rede Globo e da CBF? Não. Uma fórmula simples composta por dinheiro e gestão competente, não necessariamente nessa ordem. Em tempo: não esqueci que no seu CT, o Ninho do Urubu, morreram 10 meninos da base em fevereiro daquele mesmo ano por absoluta negligência…

Tem equipes na chamada “elite do futebol brasileiro” que desfrutam de muito dinheiro e são ruins de gestão. Exemplos clássicos: Corinthians, São Paulo, Palmeiras e o “falecido” Cruzeiro. Outros tem ‘um bom’ orçamento, mas a gestão é sofrível: Fluminense e Internacional. Tem os de pouco dinheiro e nenhuma gestão, por isso oscilam naquele vai-e-vem das séries A e B: Botafogo, Ceará, Sport, Chapecoense, América-MG, Bahia, Fortaleza. Há os de orçamentos e gestões razoáveis: Santos, os dois Atléticos (o mineiro e o do Paraná), o aspirante Bragantino que passou a ter um bom patrocinador. E o Grêmio. Mas, fora da curva, tem o Flamengo, onde a falta de dinheiro não é problema mas oscilam gestões duvidosas com administrações compatíveis com o orçamento. Nos últimos anos, como se não bastasse a venda de jogadores razoáveis por verdadeiras fortunas – casos de Vinícius Júnior e Lucas Paquetá em 2019, e de Gérson esse ano, só para citar 3, das 43 negociações que o clube carioca fez nesse período – o Flamengo fechou contratos milionários, como o do banco digital BS2 (que raras pessoas conheciam, mas que graças ao desempenho do time dentro de campo e em diferentes competições teve sua marca mega-hiper-superexposta na chamada ‘mídia positiva’ por toda e qualquer plataforma mundo afora…)

Então, o Flamengo ganha muito dinheiro porque montou um time bom; ou montou um time bom e por isso ganha muito dinheiro? O faturamento do rubro negro carioca nos últimos dois anos, entre venda de jogadores e premiações pelas conquistas de competições importantes, beirou os R$ 2 bilhões. Só não foi muito mais porque a pandemia não permitiu que um único torcedor passasse pelas bilheterias do Maracanã em quase dois anos. Caso contrário suas contas bancárias receberiam um incremento de, pelo menos, mais R$ 100 milhões por ano. Isso explica por que assistir a um jogo do Flamengo e outro do Internacional, por exemplo, nos dá a nítida impressão que estamos vendo times de um mesmo segmento praticando esportes diferentes. Ou seja: o futebol é muito mais lógico do que se imagina…

* * *

A polêmica Copa América que está sendo realizada no Brasil, único reduto que aceitou sediar a competição em meio à pandemia, é o retrato do atual futebol sul-americano: equipes sem qualidade, jogos ‘feijão com arroz’ em estádios sem público, torcedores (que só assistem os jogos pelo SBT do Silvio Santos) sem motivação. A seleção brasileira ‘sobra’ em relação às demais e isso me preocupa. Assim como vejo alguns jogos da Copa América, também assisto aos da Eurocopa que acontecem simultaneamente. E aí, as comparações são inevitáveis e preocupantes. É como ganhar o Gauchão e ter a convicção de que o time é favorito para ser Campeão Brasileiro…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 25/6/21.

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