Rezei para não morrer mais de um

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Este título acima pode ser esquisito, mas traduz com exatidão o que aconteceu no ano de 1994 em Guaíba. A história é real.

Por ser um ambientalista com trabalho na Cidade, fui convidado pelo então prefeito João Collares para assumir a Diretoria Municipal de Meio Ambiente em 1993. Aceitei o convite, mas impus três condições: não ter de me filiar a qualquer partido, ter autonomia no cargo e indicar um assessor direto, ligado ao grupo ambientalista em que eu atuava, com acesso ao suporte técnico vinculado a José Lutzenberger. O prefeito aceitou. Fiquei no cargo durante dois anos e três meses. Entre os trabalhos realizados, destaco a implantação do Parque Natural, que muitos chamam de Área Verde, na Orla Central de Guaíba. Transformamos um depósito de canos e lixo em um dos espaços mais bacanas da Cidade. Criamos um programa de Educação Ambiental, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que foi um sucesso, mas interrompido por governos seguintes, porque esta política tacanha de negar o trabalho dos outros segue na Aldeia. Implantamos um sistema de arborização urbana com apoio técnico e realizamos diversos outros trabalhos relevantes para Guaíba, mas não é este o tema desta Coluna. Falo sobre isto no livro Guaíba-Outra Margem, caso alguém queira saber mais. O foco aqui é o dia em que rezei para não morrer mais de um.

Entre as atribuições da Diretoria de Meio Ambiente, na época, estava a gestão do Cemitério Municipal, incluindo construções de gavetas para sepultamentos, limpeza, segurança e até distribuição de caixões fúnebres para pessoas carentes.

Para quem não sabe, não se pode comprar nada no serviço público sem o devido processo licitatório, o que significa muita burocracia e disputa acirrada entre fornecedores; portanto, processos tensos e demorados.

Ao me informar sobre a situação do Cemitério, descobri que era preciso abrir processo de licitação para comprar material de construção a fim de construir novas galerias para sepultamentos, pois as que restavam livres estavam acabando.

Importante ressaltar que as pessoas que morriam em Eldorado do Sul também eram sepultadas em Guaíba, pois o município vizinho tinha cemitério só em Bom Retiro, na Zona Rural.

O tempo foi passando e o processo de licitação se arrastava. Enquanto isso, as gavetas iam ficando cada vez mais escassas.

Outro ponto importante de ressaltar é que, na época, o projeto de construção das gavetas era feito pelo Departamento de Engenharia da Prefeitura e a execução das obras por funcionários do Governo Municipal. Não existia esta barbada de empresas terceirizadas em série como tem hoje. Além disso, o orçamento do Município era de aproximadamente R$ 18 milhões; atualmente, está em torno de R$ 500 milhões. Detalhe: a população de Guaíba cresceu aproximadamente 10% de lá para cá. Mas este também não é o tema desta coluna, apesar de eu entender que deva ser debatido com profundidade pela sociedade, considerando a sua relevância. Agora, voltemos ao tema da reza, pedindo para que não morresse mais de um.

Eu pressionava o setor de licitações para acelerar o processo de compra dos materiais a fim de iniciar a construção de novas galerias de gavetas fúnebres, mas não adiantava. O ritmo do processo burocrático era mais lento do que as mortes. Então, restou somente uma gaveta livre; uma.

Lembro de ter invadido o Gabinete do Prefeito e declarado em alto e bom som: – Só resta uma gaveta para sepultamento no Cemitério. O ato seguinte foi uma compra emergencial de materiais e o início da obra em ritmo acelerado, com pagamento de horas extras para os servidores convocados a trabalharem à noite.

Enquanto a obra seguia, eu rezei e pedi a Deus que não morresse mais de uma pessoa em Guaíba e Eldorado do Sul até a conclusão da obra. Fui atendido.

No momento, a realidade do Cemitério Municipal de Guaíba, inaugurado em fevereiro de 1903, segue a mesma, com espaço cada vez mais limitado.

Morto não dá voto, mas seus familiares vivos, sim.

 

CEEE Equatorial

O temporal do dia 16 de janeiro deixou claro que a CEEE Equatorial está despreparada para enfrentar crises. Todos compreendem que os ventos foram muito fortes, causando estragos importantes no sistema de distribuição de energia elétrica. No entanto, é inadmissível que uma empresa detentora de concessão para um serviço tão relevante para a sociedade esteja tão despreparada.

Esperava-se que o serviço privatizado fosse oferecer resultados melhores do que o estatal. No entanto, nada mudou. Antes, era ruim, e agora continua ruim. Basta buscar os arquivos dos jornais para conferir que a precariedade e a esculhambação vêm de longe.

Importante destacar que as prefeituras não podem atuar em consertos da rede elétrica por tratar-se de atividade regulada pelo Estado. Em Guaíba, eu acompanhei o esforço do Município para ajudar com equipamentos, veículos e até mão de obra, mas as ofertas não foram aproveitadas.

Há pessoas que ficaram uma semana sem energia elétrica, o que ultrapassa todos os limites do razoável, invadindo a irresponsabilidade, que precisa ser devidamente punida.

 

Acidentes nas Estradas

Impressiona a imprudência de motoristas nas estradas brasileiras. O resultado são mortes e mutilações em consequência de acidentes de trânsito nas rodovias.

 

Leandro André

leandro.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 26/1/24

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