Pequena Praia, Grandiosos Verões

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Estamos outra vez naquela que já foi a pequena praia dos nossos melhores verões, onde caminhávamos por ruas centrais sem calçamento, pés descalços e sem medo, a qualquer hora do dia e da noite. Lugar de estonteante beleza natural, montanhas cobertas por mata garantindo limites ao mar verde esmeralda, universo feito de simplicidade.

Em cada manhã, buscávamos o pão quentinho na única padaria para todos os gostos, excelente incentivo para a nossa criatividade gastronômica. E frutas frescas, na maioria cultivadas aqui, que ficavam expostas em caixas de madeira no pequeno hortifrúti para onde todo mundo se dirigia quando planejava uma boa e saudável refeição caseira.

Na volta para casa, depois de horas a fio sob o Sol e mergulhos em companhia de peixes, parada quase obrigatória na minúscula casinha que vendia sucos naturais geladinhos e inigualáveis. Na modesta instalação de chão batido, nossas forças se renovavam para seguir em caminhada, carregando cadeiras e guarda-sóis, até alcançar o banho no pátio, de chuveiro ou mangueira, apenas para tirar o sal. Dali a pouco, todos de volta ao mar.

Nas noites de sábado, apenas para quem estava com alguma verba reservada para extravagâncias, havia a possibilidade de jantar fora no restaurante bem instalado da avenida principal, com suas dezenas de mesas que chegavam até a calçada. Porém, por motivos sabidos, não era fácil conseguir lugar: comida boa, porções de acordo com o apetite de jovens banhistas de dinheiro contado, e o fato de ser o único restaurante do balneário.

Claro que mudamos bastante, nós e a nossa prainha de antes, nestas mais de três décadas desde que acampávamos no Retiro dos Padres com a filha pequena, que passava os dias inteiros brincando em meio à Natureza. Já faz algum tempo, trocamos a barraca pela comodidade dos apartamentos mobilhados, frequentamos a praia de Quatro Ilhas e adotamos o Rancho do Vital para o pit stop (parada) gastronômico.

As ruas centrais de Bombinhas, agora, têm calçamento, e nunca mais caminhamos de pés descalços fora da praia. Há mercados e lojas para escolher onde buscar muito além do que o necessário. E gostamos disso, pois o tempo também nos fez mais exigentes no conforto.

Ainda compramos o pão quentinho e as frutas, de manhã, mas podemos escolher a melhor padaria, a fruteira mais sortida. E quando optamos por descansar das lidas culinárias, são inúmeras as opções de restaurantes a servir o que se quer.

Na volta da caminhada em frente ao mar, que permanece com sua coloração verde esmeralda, as ruas são movimentadas, cheias de turistas brasileiros e de outros países sul-americanos, principalmente de argentinos. Mas a tranquilidade permanece onde estamos, apenas duas ou três quadras da avenida principal.

Verdade seja dita, mudamos muito, nós e a nossa pequena praia de antes. Contudo, as montanhas ainda estão cobertas pela mata, o mar se mantém verde esmeralda.

E nós, assim como Bombinhas, ainda somos os mesmos na essência e na simplicidade.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 26/1/24

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