Régua Ideológica

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Quem me conhece sabe que tenho grandes e incontáveis amigos colorados e gremistas, amigos lulistas e bolsonaristas, amigos de diferentes orientações sexuais, amigos identificados com ideologias de esquerda, de centro e de direita. E com a maioria absoluta deles consigo conversar sobre política e futebol sem nenhum problema. Sempre em alto nível.

No entanto, se o futebol é uma caixinha de surpresas, o viés da política é uma corda bamba. Um fio de navalha. Na minha mais humilde concepção, esquerda é – em tese – o termo utilizado para denominar um posicionamento político, partidário e ideológico que tem como objetivo a defesa de interesses que dizem respeito ao igualitarismo. Normalmente, pessoas que se identificam com a esquerda defendem que os coletivos são mais importantes que os individuais, especialmente em favor dos menos favorecidos e dos excluídos, como grupos marginalizados – e são muitos – que sofrem preconceitos, imigrantes de todas as etnias, de todas as raças, pessoas em situação de rua, entre outros tantos. E, para que todos os cidadãos tenham oportunidades iguais, entendem que o controle da maioria dos setores da sociedade esteja nas mãos do Estado e que somente ele seja o responsável por proporcionar educação, saúde, trabalho, moradia e outros direitos básicos…

Até aí a teoria é sensata. No entanto, é claro, existem exceções à regra. Na política muito mais do que no futebol. Tenho amigos – que nunca deixarão de ser meus amigos por causa disso – com os quais infelizmente evito o diálogo quando a supremacia ideológica se sobrepõe à argumentação. É o caso, por exemplo, quando levantam a ‘eterna bandeira da democracia’, mas na hora de citarem exemplos de países governados por ditaduras de esquerda tem sempre um ‘veja bem…’, um ‘entretanto’, um ‘porém…’, um ‘todavia…’

Escrevo isso porque tenho amigos que entendem que o Hamas – maior mais antigo grupo militante da Palestina que tem o antidemocrático hábito de não dialogar com ninguém – não se configura numa facção terrorista (?!?!?!) mas sim ‘apenas’ uma organização islâmica com ala militar. Uma espécie de grupo político que prega a destruição de Israel e por isso tenta garantir melhores condições para quem vive na Faixa de Gaza (e também na Cisjordânia). Com isso, apoiam os ataques devastadores que estão fazendo contra cidadãos israelenses…

Logo, diante de tudo que esses amigos defendem, eu proponho:

Tente ser gay na Faixa de Gaza;

Tente ser mulher na Faixa de Gaza;

Tente discordar na Faixa de Gaza;

Tente expressar a sua opinião na Faixa de Gaza;

Tente ser católico na Faixa de Gaza;

Tente ser ateu na Faixa de Gaza;

Tente ser vegano na Faixa de Gaza;

Tente roubar um celular para tomar ‘uma cervejinha’ na Faixa de Gaza;

Tente ser quem você é, expressar e dizer o que você pensa na Faixa de Gaza;

E, por fim, tente ser livre na Faixa de Gaza;

Mas isso tudo é possível ali do lado, em Israel que eles tanto querer destruir. Será que deu para entender a diferença ou é só eu que desconheço o sentido da palavra democracia???

 

* * *

Tenho tido pesadelos horríveis ultimamente. Num deles, vejo o Grêmio levantando mais uma taça de Campeão Brasileiro. Acordo transpirando e com o coração que parece que vai sair pela boca. Quando percebo que é apenas uma ilusão, viro para o lado e durmo novamente. E então, logo em seguida, acordo num novo sobressalto porque sonho com o Inter caindo pela segunda vez para a série B…

Algo me diz que em breve, em poucas semanas, devo voltar a dormir em paz. Ou não?

 

Daniel Andriotti

Publicado em 20/11/23

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