Final de ano, penso naquele professor explicando a nossa turma que muito do que estudamos não tem aplicação prática a curto prazo. Talvez, algum dia, venha a ser útil na solução de uma situação complicada, mas não se pode garantir. Jamais saberemos quando entrarão em ação as incontáveis lições que exercitaram nossos neurônios.
Cada um de nós, afirmou o mestre, fará conexões das teorias aprendidas com o mundo real de acordo com a sua capacidade, seu dia a dia, suas necessidades e curiosidades, suas crenças e seus afetos.
Lembro destas afirmações toda vez que chega mais um final de ano. Sinalizando, em meio à despedida, o início de um novo tempo, com meses e dias renovados pela esperança, marcando horas cheias de liberdade a serem preenchidas.
Naquela boa aula de Química, décadas atrás, meu otimismo encontra instantânea renovação nestes dias de aguardar a hora da virada. Nosso professor, à moda daqueles dias antigos, fez questão que decorássemos a lei de autoria do renomado cientista francês Antoine Lavoisier (1743-1791), sobre a conservação da matéria: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. E o conhecimento ultrapassou seus limites científicos teóricos.
Décadas já se passaram, ainda carrego esta máxima do século dezoito na memória; adaptada às demais áreas, transformou-se em crença para o meu dia a dia. Hoje, tenho certeza de que nossos pensamentos não desaparecem, apenas se transformam em energia, influenciando acontecimentos e até mesmo a saúde do corpo. E, nesta minha lógica inspirada em Lavoisier, também se enquadram sentimentos, frases ditas, gestos, atitudes. Olhares afetuosos, abraços e bondades são usinas de felicidade; almas leves surgem da solidariedade e do perdão; a fé em Deus faz noites de sonhos reaparecerem.
Ano após ano, tudo segue em constante transformação. A vida, com seus traçados e tempos medidos, impõe limites aos dias, que, obedientes, acontecem alternando idas e vindas, risos e lágrimas, abraços calorosos e acenos distantes, aconchegos e saudades, ciência e espiritualidade.
Calendários encerrando mais um ano, novo tempo que chega. Penso naquela aula à moda antiga sobre a descoberta do cientista francês Antoine Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Logo, logo, a sorte será lançada no universo, seguindo a lógica dos nossos pensamentos e gestos.
A esperança, agora, se chama dois mil e vinte e quatro, um tempo de possibilidades que está chegando para todos nós.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 29/12/23