Junto e Misturado

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“O Rio de Janeiro continua lindo…”, disse Gilberto Gil em algum momento da sua vida poética. Mas o Rio de Janeiro continua sendo uma das justificativas para um Brasil que insiste em dar errado. Isso porque o Rio tem o privilégio de reunir, num mesmo espaço democrático de direito, a santíssima Trindade formada pelo carnaval, pelo futebol e pelo mar. Nessa relação de poder materializada por imensas e badaladas quadras de escolas de samba cheias de mulatas e gringos, pela bola rolando no Maracanã lotado e pela areia da praia lambida pelo mar azul, do Leme ao Pontal, convivem – lado a lado – o empresário, o traficante, o promotor, o juiz, o desembargador, o miliciano, o líder da facção criminosa, o delegado de polícia, o bicheiro, o político, o artista, o turista e, é claro, o cidadão comum. E todos sabem quem é quem e qual é o componente de risco de cada um nessa relação lei-contravenção-promiscuidade. Trata-se de uma geopolítica-criminal de poder paralelo onde – com exceção do cidadão comum – ingênuos não tem vez.

A partir do momento que, ainda na adolescência, nosso raciocínio começa a nos trazer problemas passamos a perceber que o mundo é movido por interesses. Cada ser humano tem o seu para identificar oportunidades e fazer escolhas. O problema é que no Rio, boa parte dessa turma que frequenta a Mangueira, a Beija Flor, Padre Miguel; o Engenhão, o São Januário e a praia de Ipanema não têm escrúpulos quando, se preciso for, tiver que optar por extorquir ou corromper um aliado na mesma proporção que precisar mandar sequestrar, roubar, torturar e matar alguém que, ‘por acaso’, seja uma oposição aos seus interesses. E nesse mesmo grupo que ‘frequenta discretamente’ o triunvirato samba, futebol e praia, estão aqueles que tem o “poder da impunidade”, a mais eficiente cláusula da justiça brasileira.

Por se tratar de uma realidade incontestável e poderosa – portanto praticamente impossível de confrontar – as instituições de fato e de direito que poderiam se revoltar contra esse sistema, ficam contemplando o mar de Copacabana do alto do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor. O que acontece lá embaixo, parece não ter importância ou não ser percebido. Só nos resta a vergonha alheia quando alguém diz que não somos sérios ou que esse não é um país para amadores. Leonel Brizola, numa de suas inúmeras e célebres frases, dizia: “O Brasil está como sopa na geladeira. Formou-se uma camada de gordura por cima que a torna intragável”.

Se o leitor tiver a oportunidade não deixe de assistir a minissérie “Doutor Castor”, que trata sobre a vida do bicheiro carioca Castor de Andrade e produzida pela (pasmem!!!) Globoplay. Tudo isso que escrevi acima está lá. Bem explícito. Sem rodeios.

 

* * *

E eis que já estamos em agosto, mês do desgosto, das tretas, do cachorro louco, da morte de Getúlio, de Marilyn Monroe, da renúncia de Jânio, da posse de Hitler como líder na Alemanha, das bombas atômicas que dissiparam as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, entre outras desgraças e lambanças…

Tudo isso começou nos tempos mais primórdios: primeiro, porque a constelação de Leão era mais visível nessa época do ano, o que fazia com que as pessoas acreditassem que havia um dragão no céu nesse período pronto para devorar tudo e todos. Depois, nossos colonizadores portugueses optavam por sair em suas expedições à procura de novas terras justamente nesse mês. Logo, para as mulheres, casar em agosto significava ficar só, sem lua de mel e até mesmo viúva.

Superstição ou não, deixe para realizar as coisas importantes da sua vida em outra data. Vai que…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 05/8/22

 

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