Nasci e me criei numa comunidade católica. Minha mãe me levava nas procissões da semana santa. Não entendia nada daqueles ritos dessa tradição religiosa cristã, que celebravam “a morte”. Ficava assustado, confuso e aflito com aquilo. E aquelas músicas fúnebres no rádio?!…
Lembro de dois quadros enormes, assustadores, na sala da nossa casa. Um era de Jesus Cristo e o outro de “Maria”. Aqueles olhares austeros me desassossegavam!
Nunca tive uma religião. Sempre me inquietei com doutrinas, pois não consigo cultuar o místico e as crenças. Cresci questionando a fé pela fé! Então, tornou-se difícil!
À medida que os anos foram passando, foi aumentando minha curiosidade e necessidade de entender mais os credos. Aos poucos, fui aprofundando as leituras sobre o crescimento do radicalismo religioso, o avanço das “igrejas” sobre o Estado laico e as ameaças à democracia. É na literatura que busco respostas para minhas perguntas.
Nessas investidas literárias, destaco que as mais variadas interpretações sobre a “vida” de Cristo, assim como da sua mensagem, foram, de forma significativa, influenciadas por questões étnicas, culturais, intelectuais, implicando no surgimento de teologias e doutrinas distintas.
Resumidamente, estratifico em três grupos: o que entende que Jesus foi apenas um ser humano, ainda que especial; outro que Jesus era Deus; e aquele que crê na convivência das duas naturezas do filho de Deus: a humana e a divina. É uma pauta explosiva, mas identifico essas crenças como um ponto de divergência entre os cultos.
Antes, eu lia apenas o suficiente para entender o cristianismo. Fui instigado a entender mais esses movimentos religiosos, a partir da percepção do avanço do radicalismo religioso, que, enquanto se diz portador da palavra de Deus e da mensagem de Cristo, dissemina segregação, perseguição, opressão e ódio ao diferente.
Não fiquei restrito apenas ao que lia. Fui atrás dos “atores” e de suas “interpretações dos textos bíblicos”. Faz tempo que travo diálogos com representantes religiosos e devotos tentando entender as várias demonstrações da fé.
É evidente um fato: todos consagram o poder de ouvir e traduzir a palavra de Deus. Outro ponto é a busca de supremacia espiritual e social. Cada uma, dentro de seu viés doutrinário, implementa sua evangelização. Isso é óbvio!
O que me incomoda? O radicalismo religioso que se destaca com pontos comuns nas diversas crenças: imposição de parâmetros de normas e moral hipócritas; violação do pensamento divergente; opressão pelo medo. Me indigna ouvir: “Se não aceitar Jesus, não terá o reino de Deus”. Mas eu creio que o Pai não segrega nenhum filho!
É cruel perceber que, quanto mais austero o religioso, mais ele se desvia do que realmente Cristo pregou. Penso que, se Jesus voltar (e não for fuzilado na chegada), vai retomar o seu evangelho, aquele que prega fraternidade, solidariedade, amor e paz. Resgatará a humanidade! Se Ele voltar, o que fará com os apregoadores do ódio? Pelo que pregou na sua passagem, creio que clamará: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)
“De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro se perder a alma?” (Marcos 8:36) – #FELIZPÁSCOA!
Túlio Carvalho
tulioaac@gmail.com
Publicado em 07/4/23