Crise hídrica: O encontro marcado

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O amigo Cláudio Dilda me convidou para participar de um seminário, em setembro, com a pauta “Ambiente e Água”. Ele pediu que eu apresentasse minha experiência profissional no Programa Estadual de Conservação do Solo e Água. Ultimamente, o desânimo está pegando forte, mas… Vamos reagir e ir à luta.

Qualquer debate sobre uso e manejo dos recursos naturais sempre tem presente a crítica de desenvolvimentistas, contrários à filosofia conservacionista, que defendem a tese de que primeiro é preciso impulsionar o crescimento da economia, para depois pensar em meio ambiente. Isso é um equívoco, pois é a proteção da natureza que viabiliza uma sociedade saudável e sustentável.

Na conversa com o Dilda, lembrei de um painel, no 10° Congresso Florestal (2008), sobre aquecimento global, com a participação do meteorologista Carlos Nobre. Ele destacou que as mudanças climáticas nos levariam a um “encontro marcado com uma crise hídrica”, que afetaria a economia global. Esse cientista brasileiro é referência mundial em mudanças climáticas, reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho nas interações biosfera-atmosfera e impactos climáticos do desmatamento na Amazônia e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)/ONU.

Meu amigo encerrou o bate-papo, fazendo uso da colocação do Nobre com referência a projeções de futuros. Lembrou um trecho do livro de Fernando Sabino – O Encontro Marcado: “De tudo ficaram três coisas… Certeza de que estamos começando… A certeza de que é preciso continuar… A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar… Façamos da interrupção um caminho novo… Da queda, um passo de dança… Do medo, uma escada… Do sonho, uma ponte… Da procura, um encontro.” Foi um sutil e retórico recado!

O convite do parceiro me levou a fazer uma visita na página da ONU e acessar o 6° Relatório de Avaliação – AR6 (Climate Change 2021) –. datado do dia 9 de agosto. No documento, me deparei com informações, diagnósticos e prognósticos que me remeteram ao Congresso Florestal de 2008, onde o cientista Carlos Nobre, já alertava para a urgência em deter o aquecimento global. Fez previsões que, hoje, já estão sendo confirmadas, até mais cedo do que foram projetadas. A crise hídrica, aquela que acenava com “o encontro marcado”, chegou antes do anunciado, provocando situações críticas de disponibilidade de água, tanto para consumo humano, como para a produção de alimentos e desenvolvimento industrial, afetando a qualidade de vida.

Estão aí, à nossa vista, os cenários de eventos climáticos catastróficos. Rever o modelo de desenvolvimento é um desafio gigantesco que deve ser perseguido, sob pena de se esgotarem as condições de vida no planeta. Nas obras “Armas, Germes e Aço” e “Colapso”, de Jared Diamond, podemos ter uma visão das consequências do modelo de “sociedade degradadora”. Confira!

“A referência ao ‘sucesso’ de uma sociedade não diz respeito a discussões sobre valores como justiça e igualdade de oportunidades, mas a fatos relacionados à conquista de condições mais sólidas para a garantia da vida face ao ambiente.” (Jared Diamond)

Túlio Carvalho

tulioaac@gmail.com
Publicado em 3/9/21.

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