A Socialização da Fala

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Não está fácil para ninguém.

A história a seguir é fictícia, mas poderia não ser. Para descrevê-la, terei que utilizar palavras e frases que satisfaçam o antipático e hipócrita ‘politicamente correto’, modelo do século XXI para descrever expressões, políticas ou ações que evitem ofender, excluir ou marginalizar grupos de pessoas que são vistas como desfavorecidas ou discriminadas. Traduzindo: uma forma de linguagem para agradar uma geração chata, perturbada e mimizenta.

Vamos aos fatos: um grupo formado por quatro elementos entra num minimercado, dirige-se aos caixas e, aos gritos, anuncia: “Aê, mano: isso é um assalto, tá ligado? Queremos a grana. Isso é aqui na minha mão é um treizoitão carregado até a boca e a gente não tá para brincadeira”. Erro número um: os gritos e a palavra ‘assalto’ fere e choca quem está do outro lado do balcão. Meu pai sempre dizia: “quem levanta a voz é porque não tem argumentos”. O correto seria, anunciar num tom educado: “Boa tarde, senhoras e senhores. Estamos aqui para socializar o numerário arrecadado por esse estabelecimento comercial, certo? Nossa ação é amparada por essa ferramenta de ferro fundido totalmente municiada. E estamos falando sério”.

No entanto, aquele não era um dia de sorte do quarteto: entre os corredores e prateleiras, havia um policial, à paisana, fazendo suas compras. E ele portava o seu principal instrumento de trabalho: uma pistola Glock g17, geração 5. Graças ao seu treinamento e expertise, facilmente imobilizou os excluídos do sistema capitalista e opressor, abortando a ação de apropriação indevida.

Enquanto alguém ligava para o número 190, o policial sugeriu que as quatro vítimas da sociedade aguardassem a chegada da viatura dentro de uma imensa câmera fria existente no local, destinada ao armazenamento de carnes. Até para preservá-los da exposição pública. Como vestiam bermudas, camisetas regatas e calçavam chinelos, eles relutaram, pois, a temperatura lá dentro era de 32º graus negativos. Nessa tarefa, o policial contou com o apoio de outros clientes do mercado: entre eles, cinco rapazes com alturas entre 1,90cm e 2,10cm, praticantes de Jiu Jitsu, que haviam ingressado no minimercado para comprar Whey Protein. Graças às técnicas de convencimento das artes marciais, os rapazes não tiveram dificuldades em conduzir três, dos quatro transgressores até à câmara fria. No trajeto, o trio – muito nervoso – acabou tropeçando em algumas caixas de verduras espalhadas pelos corredores, fato que resultou em costelas quebradas, luxação de clavícula e diversos hematomas…

O quarto elemento, empreendeu fuga pelos fundos do estabelecimento, mas a única saída desembocava num canil onde havia seis caninos, sendo quatro da raça Pitbull e dois Rotwaillers. Os animais, irracionais que são, não reconheceram aquela pessoa como sendo o seu dono; e acabaram por danificar irreversivelmente a pele, os músculos e os ossos daquele que tentava sair por uma porta diferente de onde havia entrado. Meu avô, sempre dizia: “a porta de entrada tem de ser a mesma porta da saída. Senão, dá azar…”

No dia seguinte, várias entidades ligadas aos “Direitos do Manos” imediatamente entraram com ações no Ministério Público pedindo a punição das pessoas envolvidas na repressão dos quatro homens que haviam entrado no mercado com o objetivo de socializar o patrimônio daquele empreendimento, com polpudas somas indenizatórias que possam ao menos reparar essa ação truculenta e desumana com essas vítimas da sociedade, mas essa já é uma outra história.

Com isso, eu repito a frase inicial desse texto: não está fácil para ninguém mesmo. No Rio de Janeiro, esse tipo de ação é mais corriqueiro e menos repressor graças à cultura carioca de atender diferentes interesses. Em São Paulo, tudo muda. Existem “ONG’s” lá, como Força Tática e Rocam, por exemplo, totalmente insensíveis a esse tipo de causa operária…

 

* * *

Domingo, o Inter aplicou 7 a 1 no Santos. Quase inacreditável para um esporte envolvendo dois times de alta performance. Esse placar disparou o gatilho de amargas lembranças daquele 8 de julho de 2014…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 27/10/23

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