O escritor, jurista, político e abolicionista baiano Rui Barbosa (1849-1923) foi um brasileiro de destaque em diversas áreas, no âmbito nacional e internacional, em especial como diplomata. É dele a frase que se transformou em conhecido ditado no Brasil.
Durante o processo de conclusão do Código Civil Brasileiro, Rui Barbosa se manifestou contrário à rapidez como era redigido. Suas palavras foram: “A pressa é inimiga da perfeição”. E no discurso proferido em Haia (Holanda), em 1907, defendendo o princípio da igualdade jurídica entre nações soberanas, acrescentou: “A pressa é também a mãe do tumulto e do erro”.
Lembrei das frases marcantes desse ex-senador do Brasil, dia desses, em conversa casual sobre cuidados com a pele, quando uma amiga me falou sobre um novo sérum facial com resultados deslumbrantes para peles maduras como as nossas.
Disse-me ela que soube, através de um áudio, que o produto, totalmente natural, amenizava as marcas do tempo, desacelerando o aparecimento de linhas características do envelhecimento. Fez questão de que eu ouvisse a mensagem recebida para comprovar o que me dissera. Eu concordei, tanto por mim quanto pela nossa boa e antiga amizade.
Volume no máximo, celular sobre a mesa, entre as nossas xícaras de cafezinho; em um click, o áudio teve início com uma fala muito acelerada. Parecia o Tio Patinhas, diretamente de alguma animação dos Estúdios Disney, com aquele seu jeito praticamente impossível de entender. Em idioma de pato, alguém tentava explicar algo sobre alguma coisa, mas a comunicação, na verdade, não acontecia. Então pedi que minha amiga interrompesse aquilo.
O áudio tinha sido acelerado, disse-me ela, para que eu não perdesse tempo; era assim que geralmente fazia com as mensagens de voz. Fui pega de surpresa. Disse-lhe apenas que de nada adiantaria usar um sérum facial para acalmar as marcas do tempo se continuássemos apressando os momentos da própria vida. E sugeri que me mostrasse o áudio como ele realmente era.
Depois de ouvirmos com naturalidade e atenção plena aquele áudio, minha amiga confessou, encabulada, que boa parte da mensagem acelerada ela não havia entendido.
Nos despedimos, ambas agradecidas.
Lembrei-me imediatamente de Rui Barbosa, o autor da frase que ouvi, na minha casa, durante toda infância e adolescência; e da sorte que tive por isso. Hoje, tenho absoluta certeza de que a pressa é inimiga da perfeição, indutora de erro e provocadora de tumulto.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 13/11/23
