Uns velozes e furiosos. Outros, hipócritas

0
COMPARTILHAMENTOS
13
VISUALIZAÇÕES

Caro leitor, você até pode não gostar de corridas de fórmula-1. Pode nem saber guiar um carro, quanto mais admirar quem dirige a 300 quilômetros por hora. Mas é inegável que os automóveis façam parte da nossa vida desde sempre. Mas o que isso tem a ver com uma corrida de fórmula-1? Com a corrida, talvez, nada. Mas com os carros, tudo.

A principal delas: a tecnologia aplicada à segurança. Você sabia que itens como freios à disco, pneu radial, câmbio semiautomático, aerodinâmica, motores híbridos,  cinto de segurança de três pontas (que num carro de competição é de cinco pontas) e por aí vai… foram instalados nos veículos de passeio a partir dos avanços desenvolvidos para os carros de competição?

Dito isso, no último final de semana Interlagos recebeu mais uma edição do ‘circo’ da fórmula-1. O segundo GP do Brasil a ser transmitido pela Band depois da era Globo com aquelas narrações apoteóticas de Galvão Bueno, principalmente nas vitórias de Ayrton Senna. Sim, até 1980 era a Band que transmitia as corridas. E lá, a voz era do Luciano do Valle.

A migração para a Band trouxe, entre tantas coisas positivas para quem gosta deste tipo de esporte, um ingrediente que há muito tempo não se via quando a transmissão era na outra emissora: a emoção. Isso graças a profissionais de primeira linha, como narradores, ex-pilotos, comentaristas e repórteres. Ok, a Globo tentava fazer, considerando que dois deles – Reginaldo Leme e Mariana Becker – seguiram para a emissora concorrente.

Outra vantagem para quem gosta desse tipo de esporte é o tempo de transmissão: na Band a coisa começa na quinta-feira mostrando as cidades onde acontecem as corridas, depois vem os treinos, a movimentação nos boxes e, nos sábados – uma espécie de minicorrida chamada de ‘sprint challenge’. Domingo, dia da prova, a transmissão inicia bem antes da largada e só encerra muito tempo depois da bandeirada. A Globo abria o sinal cinco minutos antes da volta de apresentação e encerrava quando o primeiro colocado cruzava a linha de chegada. Muitas vezes cortava até o pódio dos vencedores.

Na pista, a F-1 também ganhou em qualidade. Voltou a aparecer um pouco mais o talento de jovens pilotos como Lando Norris, Lance Stroll, Esteban Ocon e Charles Le Clerc; e os protagonistas e rivais Max Verstappen e Lewis Hamilton, além do veterano Fernando Alonso, literalmente ‘correndo por fora’…

 

* * *

Mas o Brasil não poderia sediar um evento com transmissão para ‘trocentos’ países sem pagar um mico padrão FIA: tá certo que a Ludimila faltou a todas as aulas de Educação, Moral e Cívica na sua curta vida escolar. Mas ao aceitar o convite para interpretar o hino mais bonito do mundo antes do início da corrida no último domingo, ela devia ter ‘feito o sacrifício’ de estudar e decorar a letra do hino do país dela. Não foi falha de equipamento, como sugeriram alguns defensores. Foi um ‘outro tipo de falha’. Dias depois, ela posta um vídeo cantando ‘à capela’ o hino brasileiro. Era tarde. O mico ao vivo não tem reverso. A vergonha alheia é cruel, absurda, avassaladora.

 

* * *

Meus colegas de imprensa, por vezes, me revoltam: continua morrendo dezenas, centenas, milhares de pessoas na guerra da Ucrânia com a Rússia, mas não se fala mais disso. Parece que ucranianos e russos são menos importantes do que israelenses e palestinos: o que importa, agora, são os mortos da Faixa de Gaza. A hipocrisia, tenho certeza, é um dos piores males desse século…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 13/11/23

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *