A tecnologia da comunicação instantânea e abundante, via internet, é maravilhosa. Foi ela que permitiu que estivéssemos presentes na vida dos nossos netos. Não posso nem imaginar ficarmos sem notícias das artes e da alegria dos nossos anjos amados. São fotos, relatos, mensagens de voz e “vídeos chamadas”. Viva a tecnologia!
A “era da comunicação instantânea” nos bombardeia com informações em tempo real. Chegamos ao ponto de assistir, ao vivo, até as atrocidades de um conflito bélico.
A guerra é a maior estupidez humana. Ela desnuda a imbecilidade do “homem” ao justificar matar pessoas que nada têm a ver com suas causas. É o domínio da insanidade, da vocação para a truculência e a barbárie. A guerra deixa cicatrizes irremovíveis no inconsciente coletivo.
Já tinha programado voltar a abordar as “catástrofes anunciadas” nesta Perspectiva. Mas a “visão” de um conflito armado – a estupidez humana – me abateu!… A “desumanização” dominou e capturou o meu imaginário.
Nesses últimos dias, percebi que meu estado emocional chegou a um patamar de angústia preocupante. Procurei me distrair, dedicando um tempo para explorar alguns livros que estão aguardando minha atenção.
Na “festa do livro”, na praça da Alfândega, sempre prospecto autores e obras que não conheço. Nessa última feira, procurei autores portugueses, tendo em vista ter obtido essa cidadania, procurando conhecer melhor minha “segunda pátria”, através da literatura. Foi aí que me deparei com “A Desumanização”, de Valter Hugo Mãe.
Pois então!… Tomei coragem e encarei o “patrício” e sua obra. No início, quase desisti pois o tema central desse livro é o luto. Ele encara as perdas, literalmente ou subjetivamente falando. Traz à tona a morte, a perda do amor materno, da infância, a perda de um pedaço seu.
À medida que lia, pensava na desumanização da sociedade. O “homem” se despojou das características humanas. O sistema social, nesta crise moral, priva o ser humano das características que identificam sua espécie.
Aos poucos fui materializando uma realidade: a desumanização está intimamente ligada à perda de valores éticos e de sensibilidade, de mãos dadas com a intolerância.
A desumanização não pode ser entendida só pelos conflitos bélicos. A sociedade convive, no seu dia a dia, com a miséria que se abate sobre uma população de excluídos. É uma tragédia humana que “varremos para debaixo do tapete”. Olhamos e não vemos, de forma desumana, populações imensas de excluídos, sem moradia, sem alimento necessário, sem dignidade – Renegados!
Trago Friedrich Nietzsche para essa reflexão: “A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade.” Precisamos restabelecer a moral e a ética.
Por fim, fiquei sonhando com uma sociedade preocupada com o bem-estar de todos, que cultive a solidariedade e a fraternidade: a humanidade!
“Sonhar o sonho impossível; Sofrer a angústia implacável; Pisar onde os bravos não ousam; Reparar o mal irreparável; Amar um amor casto à distância; Enfrentar o inimigo invencível; Tentar quando as forças se esvaem; Alcançar a estrela inatingível. Essa é a minha busca.” (Dom Quixote de La Mancha – Miguel de Cervantes).
Túlio Carvalho
tulioaac@gmail.com
Publicado em 4/3/22