Duas casas antigas, construídas no início do Século 20, chamam a atenção de quem passa no Calçadão da Beira, no Centro de Guaíba. Os imóveis, um deles em estilo Art Déco, foram apontados para tombamento pelo Município, considerando a sua relevância histórica.
As Casas da Beira, como são conhecidas, remetem à Guaíba antiga, do tempo em que as barcas eram a única ligação da Zona Sul do Estado com a Capital, e dos famosos balneários Alegria e Florida, que recebiam veranistas da Região Metropolitana de Porto Alegre nas décadas de 1940, 50 e 60. No entanto, por falta de manutenção, os imóveis estão se deteriorando. Importante patrimônio histórico do Município se desmancha aos poucos no cartão postal da Cidade, revelando um descaso constrangedor do poder público.
Fundação e Museu do Papel
Há informações de que a Santa Casa de Porto Alegre teria herdado os imóveis, que estariam, entre outros bens, citados no inventário de Décio Andriotti, que faleceu em 2018 durante uma viagem à Europa.
O ex-proprietário, que era professor de História e crítico de ópera, havia manifestado interesse em criar uma fundação voltada à música em uma das casas. Tratativas de Andriotti com representantes da CMPC, para dar um destino cultural aos imóveis, tiveram início, conforme foi registrado pela Gazeta Centro-Sul, mas, ao que tudo indica, não houve tempo para a sua realização.
Em 2019, a Prefeitura de Guaíba, por meio da Setudec, anunciou que estava elaborando projeto para ocupar aquele patrimônio histórico com a Fábrica de Gaiteiros e implantar o Museu do Papel, considerando a relação histórica do Município com o setor papeleiro. Não avançou.
Essa semana, um tapume preto foi colocado na frente de uma das casas (foto), chamando a atenção da comunidade, que buscou informações junto à Gazeta Centro-Sul.
A Gazeta questionou a Prefeitura de Guaíba sobre o motivo da colocação do tapume, e recebeu o surpreendente comunicado que segue, publicado na íntegra.
O que diz a Prefeitura
“Houve fiscalização do Município por denúncia quanto ao estado dos prédios. Foi realizada vistoria técnica e a sacada está com ferragem aparente, com patologia estrutural. O proprietário foi notificado para realizar os consertos necessários.
Uma empresa contratada pela proprietária, que é a Santa Casa de Misericórdia, relatou por telefone aos técnicos do Departamento que, no momento, o contrato é para somente o isolamento do local por segurança e que não há a interesse de aprovação de qualquer projeto de revitalização.
O Código de Obras permite estes procedimentos, devendo ser mantido um mínimo livre de 1,0m de calçada e o tapume ter boas condições.”
Foto: LA/Gazeta
Publicado em 28/4/23