Paula Schuch Silveira

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Aquela menininha foi uma das primeiras crianças que chegaram para renovar as alegrias infantis da família feita de adultos de diversas idades. Com seu jeitinho afetuoso, a inteligência e os olhos azuis herdados do pai, ela encantava a todos. E eu, felizmente, estava entre os tios e as tias que adoravam estar com ela.

Sua paixão pelo mar, hoje tenho certeza, foi construída naqueles divertidos verões com a família, no pequeno e adorável Balneário do Pinhal, na companhia dos irmãos menores, por vezes dos avós maternos e da Nona, de tios e primos. Em um dos veraneios à moda antiga, presenciei uma interessante manifestação daquela menina que, anos mais tarde, se tornaria psicóloga.

Na simplicidade dos calmos dias praianos de outros tempos, um homem passava as manhãs caminhando pela beira da praia com seu pônei, oferecendo fotos que poderia fazer com as crianças montadas no “cavalinho”. A imagem vinha dentro de um pequeno monóculo de plástico, e era preciso fechar um dos olhos para que o outro a enxergasse. Uma preciosidade da época.

É claro que todos nós ficamos felizes quando meu irmão, o pai da querida garotinha, pediu que o avisássemos caso o homem do pônei fosse avistado. E logo o fotógrafo foi encontrado, para alegria geral.

Meu irmão, com a nossa sobrinha no colo, toda sorridente, pagou pela foto e combinou a entrega com o responsável. Mas, quando foi colocá-la no pônei, ela teve uma reação inesperada. Agarrou-se no pescoço do pai, dizendo, aos prantos, que não queria mais, e a negociação foi desfeita. Ninguém entendeu o que tinha acontecido, a mãe dela se esforçou, conversando com jeito para que ela contasse as razões da desistência de fazer a sonhada foto, mas não adiantou.

Eis que, alguns meses depois, sentada à mesa para o café da tarde, na casa da Nona, como a menininha chamava sua avó materna, ela me olhou e de repente perguntou: “Sabe por que eu chorei na praia e não quis subir no cavalinho aquela vez?”, ao que eu respondi apenas com um “não”, tentando disfarçar a surpresa. E aquela criança querida me explicou: “Quando o pai ia me colocar no cavalinho, perguntou para o homem quando é que ele entregaria, e o homem disse daqui a dois dias aqui na praia”. Eu então expliquei a ela que era a fotografia que seria entregue em dois dias, não ela. E a resposta foi um olhar infantil e amoroso que permanece até hoje em mim.

Passaram-se muitos anos desde então. E tivemos que devolver a Deus aquela menininha que Ele um dia colocou em nossas vidas.

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 3/11/23

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