Guerras e Torcidas

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Dias há em que um desconforto humanitário se instala no meu coração. Uma estranha sensação de que a empatia para com os demais seres humanos, ao contrário do que percebemos em mensagens e palestras, ainda esteja a anos-luz de distância das nossas modernosas percepções de qualidade de vida em um mundo melhor.

A causa desse desalento emocional está diretamente relacionada à novidade das guerras com torcidas organizadas, que hoje ocupam o território do improvável, ultrapassando todas as nossas fronteiras involutivas.

Falta a compreensão de que todos nós, independente de raça, credos ou pátria de origem, fazemos parte de uma mesma equipe chamada vida. E que os conflitos armados não são jogos virtuais.

Paremos para prestar atenção nos acontecimentos e nas reações que cada um nos provoca como seres humanos. Julgar e condenar não é tarefa nossa, mas procurar saber quais as razões de cada conflito, as dificuldades que todos os envolvidos possam estar enfrentando, as possibilidades concretas de mediação para conciliar. Aceitando, sobretudo, que salvar vidas é dever humanitário, seja de que lado for.

Em vez de escolhermos um “time da guerra” para torcer, influenciados por narrativas e questões partidárias locais – bem distantes dos conflitos, diga-se de passagem, por que não questionarmos sobre as medidas a serem tomadas pelo cessar fogo e a preservação das vidas?

Vejamos o caso do conflito entre Israel e Palestina, que se estende por décadas, com ações militares e terroristas causando infelicidade e perdas irrecuperáveis para famílias de ambos os lados.

É sabido o que aconteceu com o povo judeu na Segunda Guerra, a perseguição sofrida, as vidas dizimadas. Mas nada justifica a implementação de uma fronteira armada para separar parte dos seus compatriotas, invadindo casas e subjugando os palestinos. E na luta contra o terrorismo que se instalou na Palestina, é desumano sacrificar vidas, especialmente de crianças, como meios que justifiquem fins, que façam parte de uma vingança considerada justa.

Da mesma forma, é inaceitável que a execução de jovens e crianças israelenses, em atentados por parte dos terroristas que governam os palestinos, sejam comemorados e aplaudidos à distância. Como se tudo não passasse de um joguinho de videogame do qual se pode tirar proveito na computação de votos, na propagação de ideologias escusas.

Dias há em que um desconforto humanitário se instala no meu coração. A causa desse desalento emocional, além das guerras em si, são as torcidas organizadas, à distância, por esse ou aquele lado do conflito. Quando deveríamos, todos, torcer pela vida.

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 8.12.23

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