Voltando da viagem sonhada por dois anos, onde a felicidade foi o ingrediente principal, procurei distrair a mente, pois já começava a sentir um aperto no coração, provocado por uma prematura saudade. Foquei na pauta desse mês, já que a coluna está completando onze anos.
A cabeça era um vulcão expelindo pensamentos. Num momento me deparei com Mário Quintana: “A saudade é que faz as coisas pararem no tempo.” Sou um fã de carteirinha do nosso eterno poeta. Para bem da verdade, só agora consegui, realmente, entender o significado desse verso. Dois anos de “isolamento” representaram uma eternidade. A saudade me engolia e paralisava o tempo.
Refletindo sobre esse período de resguardo e recuperação da saúde, lembrei Fernando Pessoa: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” Muitas vezes ficava em silêncio procurando identificar os “sons do entorno”. No meio de canto de pássaros, de vozes de pessoas passando, cachorros latindo, comecei a escutar o vento e ouvir o que ele dizia.
Noutro instante, me surpreendi cantarolando aquele refrão: “A saudade mata a gente…” Mas logo em seguida, sorrindo para dentro, emendei: A felicidade salva! A tristeza na minha alma foi exorcizada no braço dos netos, da filha e do genro. Depois de dois anos, fazer palhaçada para ver os netos darem gargalhadas, fingir que conseguia ler livro em japonês, inventando personagens e diálogos, assistir aos filmes que eles gostam, com “crítica literária” em paralelo, ser chamado de vovô maluquinho?!… Ah!… Acompanhar os netos tomando a vacina da Covid!…Tri legal!… Foi uma overdose de felicidade familiar. Bah!… Isso não tem preço.
Já em casa, garimpando nos destroços do turbilhão de “delírios” da viagem, comecei a montar a pauta dessa e nessa “Perspectiva”. Aos poucos, o cenário foi se materializando e deslumbrei o tema: A Felicidade. Mary Cholmondeley ilustra bem meu sentimento. “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
Se há uma coisa importante que a vida nos ensina, é que a felicidade é um sentimento simples. Ela é formada por diversas emoções, sentimentos e amor. Neste contexto, carregar coisas boas no coração, jogando fora qualquer sentimento ruim, danoso, desnecessário, é o início de uma jornada na felicidade. Há pessoas que estão quase sempre felizes e de bom humor, sem nenhum motivo específico para esse estado de espírito. Certamente, a origem dessa felicidade é estar bem consigo mesmo e com a vida.
Trago, por fim, alguns filósofos que analisaram a felicidade. Para o grego Aristóteles, a felicidade diz respeito ao equilíbrio e harmonia praticando o bem. Para Epicuro, a felicidade ocorre através da satisfação dos desejos. O indiano Mahavira acreditava que a não violência é um importante aliado para atingir a felicidade plena. Confúcio afirmava que a felicidade era devido à harmonia entre as pessoas. A saudade mata a gente!… A felicidade salva!
“Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira. (Johann Goethe)
Túlio Carvalho
tulioaac@gmail.com
Publicado em 4/2/22.
Certamente esse articulista aí aprendeu com a vida e muito tem a nos ensinar. Aliás com ele troco ideias e filosofamos intensamente nos anos mais recentes, pra não dizer que são mais de 60 anos de sincera amizade.
Tulio, gostei demais do texto e da reflexão a que nos leva. Queria dizer algo à respeito, mas não sabia como… Antes de ontem, subindo a pé a Av. São Pedro, passei em frente à academia de um amigo, faz tempo que não nos vemos, pessoalmente, Fiquei falando pra mim mesma: Nunes, Nunes… Até que saiu: Marcelinho Nunes! Puxa, foi tão boa a saudades que senti desse amigo, que continuei nos Nunes, Nunes… Veio mais um: Rodrigo Nunes, outro amigão! Continuei alimentando aquela sensação tão boa; surgiu mais um: Luiz Fernando Nunes! Adorei a brincadeira e quero continuar com ela!
Foram momentos de saudade misturados com felicidade. Foi uma ótima maneira de prolongar convivências que se mantêm, apesar das distâncias.