Somos apaixonados por viajar, eu e meu marido. Gostamos de conhecer lugares de verdade, ir além daquilo que é possível observar no mundo virtual, nos filmes e nos programas de turismo que passam na tevê. Acreditamos que um lugar é feito de um conjunto de fatores: belezas naturais e arquitetônicas, participações históricas e boa gastronomia, meios de transporte eficientes e atrações culturais em geral; e moradores locais que saibam receber visitantes com educação e alegria, o que consideramos parte fundamental para nossa avaliação positiva.
Alguns anos atrás, ao nos darmos conta de que precisávamos conhecer melhor nosso próprio país, criamos o “Projeto Capitais”, dedicado às viagens para as capitais brasileiras. Então, de tempos em tempos, nos preparamos com diversas pesquisas sobre a cidade que será visitada, e lá vamos nós, cheios de entusiasmo, querendo saber um pouco mais sobre esse extraordinário território natural que é de todos nós, os brasileiros.
Em cada uma das cidades visitadas, fazemos questão de viver como o fazem seus habitantes. Pegamos ônibus populares, andamos de metrô lotado, de táxi, de aplicativo e de trem. Caminhamos bastante, visitamos estádios de futebol e livrarias, feirinhas e museus, igrejas e teatros, praias e restaurantes, pontos de encontros locais.
Da grandiosidade cultural brasileira, estamos colecionando inúmeras curiosidades. São muitas as histórias sobre ruas e casas antigas, sotaques e gastronomias típicas, costumes e acolhidas. Contudo, entre as descobertas de diferenças regionais, outras tantas parecenças nos mostram que pertencemos, todos, a esse lugar chamado Brasil.
Interessante que, entre obeliscos e estátuas de grandes heróis, nas praias e nos mercados públicos, em passeios casuais e conversas com moradores, há sempre algo que nos lembra a cidade onde moramos, detalhes que remetem a Guaíba, o lugar do nosso verdadeiro aconchego.
Foi assim em Belo Horizonte, quando passamos pela Praça Afonso Arinos, área central da capital mineira, e avistei pequena e interessante inscrição em um monumento. Aquela simplicidade poética, por instantes, me levou de volta a casa.
A frase em alto relevo, de autoria de Rômulo Paes, um compositor de antigas marchinhas carnavalescas, fazia referência ao seu trajeto diário por duas importantes ruas da Capital Mineira: “A minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta”.
Imediatamente pensei na principal rua da minha cidade, pela qual passo com muita frequência desde a infância. E fiquei imaginando como seria aquele trocadilho seu eu o tivesse escrito. Com um sorriso, surpreendi meu parceiro de todas as viagens ao recitar: “Todo dia é assim, subindo ou descendo a São José, alguém sempre abana e sorri para mim”.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 26/5/23