Ano que vem tem Copa do Mundo. E eleições para Presidente da República, senadores, deputados, governador… Muita gente não quer pensar numa coisa nem na outra. Resiste ao futebol da seleção por saber que não teremos um time competitivo para ser hexa; e resiste à política pelo imenso sentimento de desprezo e repugnância que o assunto lhe causa. Não se trata daquela política como arte da condição fundamental às nossas vidas. Mas da cancerígena política de interesses, da partidária tradicional, do toma-lá-dá-cá. E motivos para essa antipatia é que não lhe faltam…
A política partidária brasileira consegue fazer o ódio superar a razão. E quando isso acontece, a ignorância encobre a inteligência. E nesse contexto entram dois polos opostos para a decisão do eleitor no ano que vem: de um lado, a esquerda – traduzida por Lula e somente Lula – amado por alguns, mas hostilizado por outros quando passa com sua caravana de pouca credibilidade. Do outro, eleitores que não aceitam mais uma direita pura e simples. Querem uma extrema direita, agressiva e raivosa, hoje representada por Jair Bolsonaro, que nem candidato pode ser. Entre um e outro, surgirão nomes de figurinhas carimbadas do cenário político brasileiro, ora de esquerda, ora de direita, ora de centro, apresentando-se como a válvula de escape para tudo o que contrapõe esse modelo-padrão de corrupção, de libertinagem e de meia-democracia que o Brasil vive há muitos anos.
Tenho amigos que na esteira da esquerda – e daquele modo próprio de pensar e enxergar a vida – amam Lula sobre todas as coisas. Repetem o mantra de que ele é o pai dos pobres. Que é um ser enviado por Deus para fazer avançar a humanidade. Levou água ao nordeste e luz às trevas. Deu um up grade no Bolsa Família, programa criado pela mulher de um ex-presidente (mas que isso não precisa ser dito). Colocou um teto na vida dos carentes, fez o pobre andar de avião. Não importam provas ou evidências de que, em algum momento, obteve benefícios pessoais. Que comprou sítio ou apartamento tríplex. Não acreditam que um homem puro e simples que veio do agreste nordestino possa ter se envolvido em algum tipo de propina por parte de empreiteiras. Tudo é golpe. Tudo é culpa dos detentores do sistema capitalista e opressor.
Mas tenho outros tantos amigos que não suportam mais os desmandos impunes do MST; não querem mais saber de direitos humanos somente para bandidos nem de ONG’s inúteis. Acreditam que o socialismo – independente do lugar onde foi implantado – só trouxe desgraça para a humanidade; que odeiam o personagem que se orgulha de não ter estudado e chegado aonde chegou com sua eterna retórica sindicalista e ser aplaudido por boa parte da imprensa militante e da classe acadêmica e artística. E esses – doa a quem doer – estão inclinados a optarem, mais uma vez, por Jair Bolsonaro ou quem ele indicar.
Lula chegou à presidência em 2002 e lá se manteve por oito anos entregando o cargo à ‘companheira’ Dilma. Isso porque naquela época, o cidadão comum e honesto – que ainda é a maioria neste país e que trabalha de sol a sol para contribuir com uma taxa tributária agressiva para uma politicalha que não lhe retribui com nada em troca –, não queria mais aquele modelo de Collor, de Sarney, de FHC. E contra Lula e Dilma surgiu Bolsonaro que, em tese, não se sustentou. Por isso, em 2023, o brasileiro voltou a eleger Lula. E hoje, por tudo o que ambos fizeram ou deixaram de fazer, o eleitor comum, aquele que odeia a polarização, não querer mais um, nem o outro. Por isso, aguarda ansiosamente uma terceira, uma quarta, uma quinta via. Porque se Lula ou Bolsonaro é tudo o que nos resta para reerguer o Brasil, é porque realmente estamos no fundo do poço.
Daniel Andriotti
Publicado em 11/7/25