Depois de um recente e sofrido empate do time que mora no meu coração, fiquei pensando sobre as razões que me mantêm sua fiel torcedora nestes anos todos. Verdade seja dita, desde que me conheço por gente. Nas alegrias e nas tristezas, nos shows de bola que apresenta assim como nos “bailes” que leva de adversários
fracos.
Lembrei-me do hábito de conversar sobre futebol que havia na nossa casa, especialmente nos almoços. Na preciosa simplicidade daquela grande mesa posta, lugar da boa comida caseira que a mãe nos oferecia, contávamos pequenas novidades da escola e do trabalho; e falávamos nos jogos do último fim de
semana, assunto primeiro dos meus dois irmãos mais velhos. E todos nós participávamos com entusiasmo, ouvindo e aprendendo sobre regras do jogo para embasar opiniões.
Realmente, há sempre muito o que aprender com esse esporte espetacular chamado futebol, que mora nos corações brasileiros. Com frequência, tem me impressionado sua incomparável capacidade de reunir multidões. Características nas quais encontro, a cada jogo, novos ensinamentos.
Gosto da dinâmica que salta aos olhos quando dois times estão em campo, de observar as danças exuberantes em forma de dribles e cabeceios. Nos impedimentos e pênaltis, regras milimétricas que penalizam tanto a pressa quanto a imperfeição.
Cartões apontando para os céus, anunciando deslealdades cometidas; pedindo calma e mandando para o túnel aqueles que ultrapassaram limites.
São lindos os golaços de bicicleta, feitos de sem-pulo e muita categoria. Em lindas voadoras, goleiros se fazem pássaros na defesa de uma pátria que grita nas arquibancadas, bandeiras a tremular. Milhares são os nós de gargantas com bolas velozes se chocando nas traves.
No futebol, muito me impressiona a capacidade de reunir gente. E nas tantas particularidades desse esporte, minha atenção de repente se prende às milhares de pessoas que competem entre si e compartilham a única esperança, que é de fazer golos a mais do que sofrê-los.
Nos comentários sobre público presente às partidas, percebo o seu poderio social. No grandioso estádio, público aproximado de doze mil, é voz corrente que estava praticamente vazio, mesmo que o número represente seis grandiosos teatros superlotados.
Entre as tantas lições importantes do futebol, o entendimento de que alegrias e tristezas costumam se intercalar
vida afora. E que nada está realmente decidido até que se ouça o apito final; dentro das quatro linhas e do tempo regulamentar, nunca se sabe qual será o resultado de um jogo. Independente da folha de pagamento de seus atletas e da presença de sua torcida, faça chuva ou faça sol.
Nesse esporte espetacular chamado futebol, o inesperado anda de mãos dadas com a esperança, eis a maior de todas as suas lições.
Cristina André
Publicado em 3/10/25