A Dor da Separação

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O casamento acabou. E agora?

Quem sofre com separação conjugal é sempre o pobre. O rico, nem tanto. Fica no máximo… chateado, aborrecido. E então consulta um psicólogo amigo da família que ‘receita’ como terapia… um mês na Europa para arejar a cabeça: novas paisagens, pessoas diferentes, outras culturas, museus, restaurantes, outros hábitos. Quando voltar, o novo apartamento onde vai morar sozinho (a) já foi decorado e devidamente mobiliado por profissionais contratados para isso. Os vizinhos nem percebem.

O pobre quando se separa o assunto toma uma proporção de calamidade pública. Todos os dias os vizinhos assistem a um ‘barraco’: baixarias, palavrões e lançamento de objetos contra as paredes. O marido, então, coloca algumas roupas dentro de duas sacolinhas de supermercado e retorna para a casa da mãe, ocupando aquele quartinho dos fundos, no puxadinho. A mulher fica em casa com as crianças, pelo menos até a audiência de conciliação. Mas ambos se ‘alfinetam’ com ‘indiretas’ nas redes sociais numa verdadeira lavagem virtual de roupa suja. Como ele não sabe lidar direito com isso é ela quem deita e rola com postagens do tipo #agoratosolteira e #aceitaquedoimenos.

No dia da audiência o casal rico chega ao Fórum, cada um no seu carro. Ambos muito sérios, se cumprimentam sutilmente com um leve aceno de cabeça. Não levam os filhos para não os exporem. Ficam em silêncio e de óculos escuro o tempo todo. Apenas os advogados de ambas as partes se comunicam com o juiz.

O casal pobre chega ao Fórum: a mulher traz os quatro filhos, sendo os dois menores no colo e o terceiro de mãos dadas com a filha mais velha, adolescente. Todos comem aqueles salgadinhos fedorentos e brigam pela mesma latinha de refri. Ao se reencontrarem, já inicia o bate-boca. As crianças tentam destruir a sala de espera, correndo sem parar, arrastando as cadeiras e puxando as cortinas. A pendenga continua em frente ao juiz. “Aquela casa é minha e de lá eu não saio. O terreno foi meu pai quem deu…”, diz ela. “Tua casa coisa nenhuma!!! Foi construída com o dinheiro meu Fundo de Garantia…”, rebate ele.

O marido recém-separado e rico sai para jantar com o advogado que o defende. Vão a um restaurante de um bairro chique. Bebem vinho. A mulher recém-separada e rica vai a um museu de arte moderna com uma amiga e, depois, seguem para o teatro. A mulher recém-separada e pobre vai ao pagode se divertir co’as amiga. O marido recém-separado e pobre vai… ao mesmo pagode. Encontram-se na copa comprando um latão. Ela dispara: “pra isso tu tem dinheiro, né cafajeste?”. E ele rebate: “Quero saber com quem ficaram os meus filhos???” (nessas horas os filhos são só dele). É o estopim para que ambos tentem se agredir, dando trabalho para a turma do ‘deixa-disso’. As horas passam, a bebida faz efeito e eles trocam olhares até que… toca a música-tema do casal: “…tira a calça jeans e põe o fio dental / morena você / é tão sensual…”. Eles dançam, se beijam, vão para casa e fazem amor até o dia amanhecer (se tem uma coisa que pobre é bom é nisso). E pááááááááááá: mais um filho.

A próxima audiência terá reforço do time na destruição da sala de espera do Fórum…

Daniel Andriotti

Publicado em 26/9/25

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