Em algum momento da nossa vida, estudamos, lemos ou ouvimos falar de Albert Einsten. Vale até se for apenas aquela foto clássica, em preto e branco, onde ele, descabelado, está com a língua para fora.
Pois bem, Einsten, evidentemente era muito mais do que isso. Alemão, judeu, tratava-se de um sujeito absurdamente ‘fora da curva’. Ele foi um dos mais notáveis físicos que a humanidade já teve. Entre suas tantas contribuições – que revolucionaram a forma como entendemos o espaço, o tempo e o universo – está a mais famosa delas: a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna, ao lado da mecânica quântica. Mas foi pelas explicações lógicas sobre a lei do efeito fotoelétrico que, em 1921, ele ganhou o prêmio Nobel de Física.
Em 1925 – portanto está completando 100 anos agora – Einsten esteve na América Latina. Visitou o Uruguai, a Argentina e, é claro, o Brasil. E é sobre essa visita que eu quero falar. Além de fazer conferências científicas, visitou universidades e instituições de pesquisas. E, é claro, visitou pontos turísticos. Depois soltou o verbo sobre a terrinha. Publicamente, lógico, ele era político, tolerante, educado. Mas no silêncio da sua intimidade era o tipo de pessoa que anotava quase tudo num velho e bom diário – e ali o homem era totalmente sem filtros. Talvez imaginou que suas memórias jamais seriam publicadas. Mas elas foram…
Sobre o Brasil escreveu que ‘ficou maravilhado com a majestade da paisagem e da vegetação’, referindo-se ao Rio de Janeiro, principalmente ao visitar o Corcovado e o Pão de Açúcar. Mas, sobre o povo brasileiro, que num determinado momento chamou de ‘fofinho’, elogiando a mistura racial e a diversidade étnica, descambando logo a seguir para ‘uma gente trabalhadora, asquerosa e obtusa’. E disse ainda: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para os demais, eles são macacos para mim”. Poxa vida, ‘seu’ Albert… que feio!!!
Fosse hoje, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, daria 48 horas para Einstein se explicar sobre suas manifestações racistas. E sairia de lá preso, algemado e com chance de anistia zero. A Globo faria um documentário, patrocinado pela Petrobrás e pelos Correios, com roteiro baseado em ideologias fundamentalistas e de falso moralismo para agradar uns e outros que veem preconceito em tudo. Inclusive onde não tem.
Na verdade, as pessoas que receberam Einsten no Rio de Janeiro, não souberam fazer um roteiro de visita decente para aquele que a humanidade trata até hoje como um gênio. Não o levaram ao Maracanã para assistir a um Fla-Flu ou a um Vasco e Botafogo, no Engenhão, deslocando-se a bordo de um ‘frescão’ lotado, com integrantes das duas torcidas se encontrando no caminho e protagonizando o maior quebra-pau do mundo. Não o levaram a um ensaio numa quadra de escola de samba no Morro da Mangueira para tomar cerveja quente num copinho de plástico e sacolejar o esqueleto em meio a um grupo de mulatas. Sequer foi à Rocinha na carona de um moto-táxi. Não jogou no bicho. Não foi assaltado. Não foi confundido com líder de uma facção rival à do Comando Vermelho a bordo de um carro de aplicativo que se perdeu entre o Morro da Pavuna e o Vidigal. Aí sim ele veria o que é relatividade…. o que é efeito fotoelétrico… o que é a relação entre o espaço, o tempo e o universo…
Esse seu caderninho de anotações sabe de nada, ‘seu’ Einstein…
Daniel Andriotti
Publicado em 6/6/25