65 Anos de Jornada

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Essa semana, completei 65 anos de idade. Sou de uma geração que vive a maior transformação da Humanidade: de antes da existência da TV à Inteligência Artificial.

Assisti grandes filmes nos cinemas de calçada, participei de intensos debates filosóficos em botecos, acompanhei a política antes das narrativas, a música de qualidade, o som de vinil, a poesia com alma, o jornalismo imparcial conectado com as ruas, a notícia completa, a reivindicação com embasamento, o conteúdo com valor e as frutas com sabor.

Vivi perrengues, também, como a longa lista de espera para comprar um telefone fixo, cabine para ligar à distância, espera para revelar e ver a foto no papel, fumar por tabela no ônibus e no bonde, pesquisa da escola em enciclopédia, ir à praia de carona e acampar onde fosse possível; vivi os encantos e os enganos da política.

Bebi água de filtro de barro, andei de carro sem cinto de segurança, usei tamanco e calça boca-sino, tomei Q-suco de groselha e vinho barato, dancei apontando para o teto, esperei a TV esquentar para assistir Os Três Patetas, curti as propagandas do chocolate preto e branco e dos cobertores Fiateci, coloquei Bombril na antena para tentar melhorar a imagem da TV.

Vivi a chegada da TV preto e branco e depois em cores, o PC que custava carregar, o telefone celular tijolão na cintura. Acompanhei a mudança do vinil para o CD e depois para o spotify.

Acompanhei a chegada da Internet e sua evolução engolindo a vida presencial. Do cinema ao streaming, da enciclopédia ao Google, do telefone discado ao celular 5G, da válvula e do chuvisco à Smart TV 4k.

Nestas seis décadas e meia, fui filho, pai e avô; constituí família. Fui estudante e professor, ouvi e contei histórias, fui ajudado e ajudei, errei e acertei, caí e levantei. Escrevi um livro e li muitos outros; muitos. Criei um parque na cidade onde vivo, plantei muitas árvores e fundei um jornal há quase 32 anos, que segue circulando.

Já visitei muitos países, estive em muitas cidades, estudei em Londres, cantei nos Canarinhos do Colégio São João, fui diretor cultural do Itapuí, voei de asa delta no Rio de Janeiro, tomei banho na Praia da Alegria e mergulhei em Fernando de Noronha. Me emancipei aos 18 anos para fundar o Curso de Inglês Know-How, perdi com crises e sobrevivi trabalhando, sempre lutando.

Assisti Hair não sei quantas vezes e me emocionei em todas elas, assim como todas as vezes em que ouço Bob Dylan cantar Blowin in The Wind; e também quando ouço I Dreamed a Dream, do musical Os Miseráveis. Prendi e soltei o choro da emoção; nunca deixei de me emocionar.

Tive pai e mãe cuidadosos, sinto saudades deles e dos irmãos que já partiram. Aprendi a conviver com a saudade e me sintonizar com as coisas boas da vida. Compreendi que o certo é fazer o certo, que lutar é tão importante quanto saber pelo que lutar; respeitar a natureza, e que é essencial cuidar da saúde.

Percebi o quanto é importante participar, ajudar e ter histórias pra contar.

Eis um idoso de cabeça jovem, compartilhando seis décadas e meia de vida, aproveitando a fila preferencial, a vaga especial de estacionamento e, principalmente, a meia entrada; coisa boa meia entrada.

Sou grato a muita gente por chegar até aqui, em especial a minha família, que irriga minha vontade de seguir em frente; e aos meus amigos, com quem preciso me reunir para compartilhar o melhor da vida.

No dia em que completei 65 anos, encaminhei a minha aposentadoria por idade, mas não penso em parar; chinelinho na frente da TV só de vez em quando. Acredito que ainda tenho uma longa estrada para encarar antes de partir.

Trabalho para viver e viajar, vivo com a minha família e meus amigos em Guaíba, cidade que me acolheu há 40 anos, lugar sobre o qual faço críticas, mas não aceito que os de fora falem mal. Agradeço a Deus todas as noites por tudo; gratidão abre um portal de luz.

 

* Na próxima semana, voltarei aos temas políticos, com apoio da Tia Alaíde. Por hora, recomendo a leitura do Caderno Viva Guaíba encartado nesta edição.

 

Leandro André

Publicado em 29/8/25

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