Bolas coloridas e frágeis, algodão fazendo-se de neve, enfeite especial no alto, apontando para o céu, conferiam ares palacianos aos pinheiros natalinos dos meus antigos natais. E como eram esperados, aqueles dias de rezar e celebrar a vida, de compartilhar a mesa e ter esperança, de receber presentes e estreitar a convivência em família.
Nós, as crianças de uma infância que ficou na lembrança, esperávamos o ano inteiro pela chegada do Papai Noel, os brinquedos que traria. Com a paciência e a simplicidade que aquela antiga calmaria nos ensinava, sonhávamos com a noite encantada e os dias que a sucederiam, sabíamos que seriam de pura faceirice.
Aqueles natais, porém, foram se transformando. Assim como nós, as crianças de um outro tempo, eles também precisaram adotar o novo ritmo do mundo para seguirem em frente. Eu estranhei um pouco, mas, à medida que a existência se cumpria, fui compreendendo que mudanças sempre acontecem, e os natais apenas acompanham. Afinal, vida é transformação.
Muitas coisas foram mudando nestes anos todos em que segui arrumando o pinheiro para o Natal. Aquela neve feita de algodão deu lugar às fotos de gente querida, aos laços de fita; as bolas coloridas, que quebravam com facilidade, foram substituídas por outras mais bonitas e resistentes. Na parte mais alta da árvore, que agora é iluminada, onde havia um enfeite especial, apontando para o céu, está uma adorável estrela vermelha; e sob seu abrigo divino, o pequeno presépio foi montado.
Os natais antigos, que eram tão diferentes, foram essenciais em minha vida. Das lembranças da infância e da juventude, nestes dias de mais um dezembro findo, o que me toca o coração é a gratidão que carrego vida afora pelos olhares amorosos da família, os abraços e as rezas, as presenças, a ceia preparada e compartilhada em cada um dos meus inesquecíveis natais. Vencendo todas as mudanças, tornando-se parte de mim.
Assim como nós, as crianças de um outro tempo, o Natal foi ficando diferente. Mas o amor compartilhado em família nos dias natalinos, este permanecerá para sempre em nós, porque é a razão maior dessa celebração.
Afinal, vida é transformação, exceto em sua extraordinária essência.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 24/12/21.