Aquela canção tocou meu coração de uma forma exagerada na primeira audição. E quando comecei a traduzir a letra para o idioma materno, como costumava fazer nos meus antigos tempos estudantis, poesia e melodia mostraram-se em perfeita conexão.
Mais de uma década já se passou desde que meu parceiro de vida e de boa música me presenteou com um disco da banda inglesa Keane, grata descoberta feita por ele na grandiosa livraria que frequentávamos e que ainda insistia em comercializar lançamentos em CD.
Presente colocado em prática, também encantou nossa netinha de um ano, que gostava de ouvi-lo enquanto brincava em nossa casa. Seus pais seguiram pela trilha das belas canções, e toda a família se tornou admiradora da banda inglesa. E outros CDs foram muito bem-vindos.
Eis que, no início deste ano, visitando a internet à procura de novidades musicais, cheguei no instagram do Keane, que anunciava a preparação da turnê mundial em comemoração pelos vinte anos de carreira. Decidi, então, deixar uma breve mensagem de agradecimento pelas bonitas canções, contando-lhes que meu marido descobriu a banda, eu brincava com a nossa neta ao som deles, a filha e o genro também eram seus fãs. E eu queria dizer que a boa música é atemporal, não pertence a essa ou aquela geração.
Recebi um coraçãozinho vermelho e o grupo começou a me seguir. Eu, entre alguns milhões mundo afora.
Meses depois, recebi a mensagem anunciando que a banda Keane ainda não tinha divulgado, mas viria ao Brasil e que teríamos preferência na pré-venda. Presente do presente!
Mas, como gosto de dizer às pessoas, inspirada pela matemática, a vida é como o gráfico de uma senoide (feitio de uma onda), às vezes estamos lá no alto, em outras parece que nada de diferente acontece, e por vezes sofremos quedas, enfrentamos dificuldades. Afinal, a vida é assim, nem tudo são flores.
Pois na véspera do esperado show, chuva fina molhando calçadas curitibanas, escorreguei e fraturei o punho em alguns pedacinhos. Passamos o dia no pronto-socorro, entre exames e raios-x, e a conclusão dos médicos foi de que eu deveria aguardar para fazer cirurgia. Me recuperar e dias depois voltar para casa. Nada de Keane.
Com o coração apertado e precisando de medicação para dor, propus aos profissionais da saúde a realização do procedimento cirúrgico na volta para casa. Eles compreenderam e aceitaram.
Emoção à flor-da-pele, cuidando para não piorar os problemas do meu punho, contando com os cuidados do meu parceiro de vida e de boa música, lá estava eu, cumprindo a minha tarefa de optar pela resistência da alegria.
De volta à casa, cirurgia feita e recuperação em curso, ouço o CD que me foi presenteado anos atrás. Destra, escrevendo lentamente com a mão esquerda, faço questão de contar essa história de final feliz.
Cristina André
Publicado em 22/11/24