Tudo acaba em pizza

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Sempre me interessaram as expressões populares que utilizamos no vaivém das boas conversas presenciais, especialmente depois de perceber que “onde há fumaça tem fogo”. Trocando em miúdos, cada ditado tem lá sua verdadeira razão de ser, origina-se de alguma história interessante que caiu no gosto das pessoas por metafórica utilidade, “cabe como uma luva” em incontáveis situações.

Uma das minhas favoritas é a de que “tudo acaba em pizza” no Brasil, muito citada nos últimos tempos. O significado me chamou a atenção, faz bom tempo, por diversos motivos: sou neta de imigrantes italianos, adoro pizza e futebol, a capital paulista me encanta. E tem tudo isso nesta expressão paulistana.

O Palmeiras, time de futebol paulista criado pelos imigrantes italianos que por lá se estabeleceram, foi batizado originalmente de Palestra Itália, mas trocou de nome no período da Segunda Guerra Mundial, fazendo bonita referência às encantadoras árvores brasileiras.

Era década de sessenta, e a tradicional equipe verde enfrentava uma crise sem precedentes. Eis que, reunidos para encontrar soluções, dirigentes e colaboradores conversaram por cerca de 14 horas ininterruptas sem que chegassem a uma conclusão prática.

Como não poderia ser diferente, depois de tanto tempo trocando ideias sem comer nada, todos ficaram com fome. E decidiram terminar as conversas numa boa pizzaria, acompanhados pelo jornalista Milton Peruzzi, que trabalhava na Gazeta Esportiva e fazia a cobertura da crise palmeirense.

No dia seguinte, a manchete do jornal: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. Daí em diante, já se sabe da história. A expressão passou a ser usada para casos de reuniões que dão em nada, leis que não são cumpridas, dívidas não pagas, corruptos que não são punidos.

Descendente de um casal de imigrantes italianos que chegaram a São Paulo, mas se estabeleceram no Rio Grande do Sul, sei bem o valor que damos, todos nós, à boa mesa, a uma refeição bem feita em companhia dos nossos afetos. Por conseguinte, aprendi que pizza é para comemorar as benesses da vida, encerrar dias de trabalho proveitoso ou de merecido descanso. E gosto muito de assistir futebol, mas a camiseta do meu time do coração é feita de vermelho e branco. O Internacional, que assim como o Palmeiras, foi fundado por italianos.

Das nossas diversões preferidas, boa gastronomia e convivência familiar é a combinação mais do que perfeita, tem capacidade de me lançar feito flecha rumo à felicidade. Gosto de encerrar um preguiçoso domingo com a família reunida em volta da mesa, saboreando pizzas. São momentos valiosos, presentes que a vida me entrega, certamente por alguma bondade que eu tenha feito, pelos agradecimentos e as orações que sigo praticando, pelo respeito às leis e aos direitos e deveres que me cabem.

Discordo quando ouço alguém dizer que neste País tudo acaba em pizza, referindo-se a casos negativos. Porque uma pizza bem feita é o selo dourado das boas reuniões, alimenta torcidas nos estádios de futebol com a alegria dos jantares que celebram o amor e a simplicidade das nossas casas, consciências tranquilas e esperança como recompensa.

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 4/8/23

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