Duas recentes e preocupantes declarações, em vídeos feitos com a conivência dos próprios autores, foram publicadas nas redes sociais e amplamente divulgadas pela imprensa, causando indignação e alvoroço na vida real.
Tanto o tema quanto a autoria parecem nada ter em comum, visto que surgiram de universos que aparentemente mantêm considerável distância, especialmente no que se refere ao grau de poder.
Ambos, porém, são tentativas claras, arrogantes e hostis de cancelar pessoas que lhes desagradam. E que só fizeram acreditar nos próprios estudos como forma de se tornarem melhores como cidadãos, contribuindo para um mundo melhor, onde direitos e deveres ultrapassem outras páginas do dicionário e cheguem ao jota de justiça.
O primeiro caso aconteceu em uma universidade paulista, justamente na semana de celebração do Dia Internacional da Mulher.
Em uma suposta brincadeira entre amigas, uma delas declara que a colega que tem mais de quarenta anos não deveria ter o direito de estudar, indicando para ela a aposentadoria. E ilustrou, com aqueles ares de superioridade típicos de quem nada sabe sobre a vida real, que a colega não conhecia o Google.
A gravação viralizou nas mais diversas plataformas de comunicação, ridicularizando a autora e as duas aliadas no buylling.
Resultado: as três tiveram que sair da universidade e estão se defendendo com advogados, bem quietinhas.
No segundo vídeo, de gravidade extrema, o presidente do Brasil aparece em uma entrevista coletiva, contando que, quando recebia visitas de procuradores na prisão, relatava a eles que iria se vingar do juiz responsável pela Operação Lava-Jato e de toda aquela gente. O que repetia inclusive aos delegados.
E nestes momentos da entrevista, que deveriam ser de questionamentos profissionais sérios, os quatro aparvalhados riram, achando graça daquela fala preocupante em se tratando de um homem detido por crime contra o patrimônio público, anunciando ódio e prometendo vingança contra o juiz que lhe proferiu a sentença. E que hoje é senador da República.
A gravação foi divulgada em diversas plataformas de comunicação, escandalizando as pessoas que ainda acreditam em justiça para todos. Preocupando ainda mais quem se deu conta da tentativa de cancelamento “real” de uma pessoa que só fez estudar muito para defender o cumprimento das leis.
Resultado: ainda não sabemos qual será.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 24/3/23