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Todos nós, em algum momento da nossa adolescência, dissemos: “quando eu for adulto as coisas serão diferentes”. Sim e são mesmo. Porém, nada acontece exatamente da forma como a gente imaginou. No fundo, no fundo, tonar-se adulto muitas vezes é um problema. Praticamente sem solução.

Lá pelos 15 anos começamos a sofrer uma pressão da família, dos amigos e dos amigos dos amigos para que “tenhamos um relacionamento”. Pelo sim, pelo não, começamos a namorar alguém. Mas atenção: não pode descuidar dos estudos. Terminado o ensino médio, te cobram o noivado – daquele ou de um outro relacionamento qualquer. “Chega de enrolar…” é o mantra das bocas alheias. Só que você precisa passar no vestibular. Ok, você dá um duro danado e, com ou sem cursinho, passa no vestibular e em mais ou menos cinco anos está formado. Longos e duros cinco anos. “Agora já pode casar”, é o que te sugerem. Mas você não tem um emprego? Ah, verdade…

Canudo na mão começa a busca por uma vaga no mercado de trabalho, mas… como você não tem experiência é lógico que seu salário será muito baixo. “Assim não dá para ter filhos!!!” argumentam os palpiteiros. Mais alguns anos e você vai ganhando experiência. No entanto, para chegar aquela tão sonhada promoção que vai melhorar o seu salário é preciso um mestrado, uma pós-graduação, um doutorado, falar quatro ou cinco línguas…

Com todos esses compromissos você será criticado por não cuidar do corpo. Tá gordo, desleixado, você vai adoecer. Marca uma consulta com a nutricionista, faz dieta, entra numa academia. E será torpedeado porque abandonou a família. Ok, você larga a academia e se dedica de corpo e alma à família mas um grupo de pessoas passa a te lembrar que você mora de aluguel: “o quê? Está com quase 30 e não tem casa própria ainda??? Que absurdo!!!”

Isso me leva a crer que os 20 e poucos anos estão destruindo muita gente. Você mal entendeu o que quer da vida e a sociedade – essa senhora hipócrita – te cobra tudo: carreira consolidada, casamento, filhos, casa própria, corpo sarado, seis idiomas, carro do ano, casa na praia. Mas ninguém te diz quanto isso custa. A vida começa com uma cobrança gigantesca e um emprego com salário bruto de R$ 1.200 reais. Isso pra você “ser alguém” na vida. E o tempo vai passando. E você abre o Insta, o Face… e nessas plataformas as fotos mostram todo mundo feliz porque “venceu na vida”. E certamente estão melhor do que você. A ansiedade aparece gritando que seu salário é uma miséria, você descobre que o ‘pra sempre é cada vez mais curto’ e sua vida só anda pra trás. Portanto, engole o choro. Você é um fracassado.

Ainda não terminou: quanto mais você amadurece, menor fica seu círculo de amizades. As baladas são escassas e pouco divertidas. Suas noitadas se resumem a raríssimas festas de casamentos, formaturas e velórios. Em tempos de pandemia, nem isso. E você descobre que muitos dos seus amigos não eram tão amigos assim. E começa a se culpar por erros que não cometeu. Com o ‘amadurecimento precoce’ sua maior vontade é não mais entender os outros; e sim, entender a si próprio.

E o tempo passando cada vez mais rápido. Você lembra de ontem e se dá conta que lá se foram 10 anos. Com 15 a gente não sabe nem fazer currículo mas com 25 tem que ser uma pessoa de sucesso. Não importa nossa saúde psicológica, emocional, física. O que importa é se você “tornou-se alguém”. Parece bobeira, mas enquanto a sociedade só vê sucesso e dinheiro, não necessariamente nessa ordem, a gente vai morrendo por tentar ser tanta coisa que não quer (ou que não pode) ser. Mas isso as redes sociais nunca vão te mostrar. Simples assim.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 03/12/21.

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