A propaganda eleitoral está de volta. Entre uma variedade de clipes e jingles, reprises e lançamentos vão se intercalando, todos tentando nos convencer de que são as pessoas certas para nos representarem nos poderes legislativo e executivo. Tarefa dificultada pela brevidade, e também pelos discursos, que por vezes se confundem, como se todos pertencessem a uma mesma legenda.
Alguns candidatos têm fala agressiva, acusam quem está no poder e os demais concorrentes de falta de vontade política e de capacidade para resolverem os problemas. Outros, já instalados em gabinetes de onde partem as decisões, mostram gráficos e tabelas encomendadas para destacarem seus feitos, contam como era ruim a situação antes deles, ou como piorou depois que saíram.
Há os que parecem sofrer de amnésia profunda, se apresentando com idoneidade que destoa de tudo que fizeram em outros tempos. E alguns que, sem saberem o que dizer sobre o que farão, apelam para o visual bizarro ou à fala desconexa, curtindo o efêmero momento de fama.
Parece tudo sempre igual na propaganda eleitoral. Candidatos, com suas promessas de um mundo melhor, falando de iniciativas utópicas que finalmente tomarão para o nosso bem-estar, do quanto foram enganados pelo partido a que pertenciam, de como é possível acabar com a violência, o desemprego, a infelicidade. E nós, que nas conversas informais alardeamos descrença em quase todos, na verdade ainda acreditamos que é possível acertar nas escolhas, continuamos fiéis à esperança.
E se os programas eleitorais, eleição após eleição, seguem no compasso da mesmice a que já nos acostumamos, assim também seguimos nós, os eleitores, reencontrando críticas e promessas que são velhas conhecidas. Talvez nos falte fazer a parte que nos cabe, do exercício da cidadania na forma de cobrança, de exigência de posturas corretas. Sobretudo, de não mais aceitarmos que a desilusão seja parte inevitável do processo.
Vejo a propaganda eleitoral e fico pensando sobre o que realmente esperamos dos políticos e de seus partidos nestes tempos de terceiro milênio, de desbravar um mundo que se mostra diferente daquele modelo de antes. Se acreditamos de verdade em tudo que eles prometem e depois sofremos com a decepção, ou se já sabemos sobre as reais possibilidades e não as levamos muito a sério.
Pode ser que nós gostemos de promessas utópicas, que elas nos façam mais felizes pela esperança que se renova momentaneamente, mesmo sabendo o que realmente deverá acontecer.
A propaganda eleitoral está de volta. Entre uma variedade de clipes e jingles, reprises e lançamentos vão se intercalando. Vivemos, de novo, a fase de analisar propostas e posturas dos candidatos. Fiéis à esperança, ainda acreditando que é possível acertar.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 02/9/22