Futebol de alto nível? Temos. Na Europa. Prova disso foi a competição que encerrou no último domingo, reunindo as melhores seleções do mundo. Maior investimento, melhores jogadores, organização impecável. Ah, mas teve a Copa América também. Sim, porém, o jogo final teve seu início retardado em quase duas horas por questões de segurança. Torcedores latinos, né?
O Brasil, antes temido pelos adversários e sempre candidato ao título, passou a ser um mero coadjuvante nas últimas edições. Perdeu o respeito até mesmo daqueles adversários mais limitados. Na década de 80, por exemplo, lembro de jogos do Brasil contra Bolívia, contra Colômbia, contra o Peru, onde a única dúvida era o tamanho da goleada: 6 a 0? 6 a 1? 8 a 0? Quando terminava em 4 a 1 para o Brasil, a crônica esportiva descia o sarrafo na seleção. ‘Time sem vergonha’ era a crítica mais dócil!!! Hoje, empatar com Equador e Venezuela é motivo de carnaval nas ruas…
A decadência tem raízes econômicas? Pode ser. Os clubes do futebol brasileiro sempre estiveram entre as piores instituições em termos de gestão, eficiência e moral. Mas 90% dos jogadores da seleção jogam no exterior. Por isso mesmo. As vendas de jovens adolescentes para o futebol europeu são sempre um mistério. Quem fica com quanto de um valor fictício e de números mascarados? Sem falar na questão tributária… O problema, então, são os atletas? Também. O jogador de futebol típico era aquele menino talentoso, mas que não estudava. Jogava bola o dia todo, de pés descalços num campinho ralado da periferia. Portanto, longe de ser o atleta profissional de alta performance que o esporte exige. Hoje temos uma geração onde o guri, antes mesmo de saber que a bola é redonda, exige uma chuteira Nike cor de rosa ou verde-limão. Vai para o treino num ginásio de grama sintética e, é claro, cabelo na régua, brinco nas orelhas e tatuagens pelo corpo. E continuam sem saber quem descobriu o Brasil…
Com os técnicos não é diferente. Em sua maioria, são ex-jogadores que continuaram sem ciência, sem formação teórica e sem cultura. Tornaram-se treinadores porque passaram anos recebendo orientação de técnicos que, como eles, nunca tiveram formação para o cargo. Não por acaso, o Brasil jamais emplacou um técnico por um médio prazo em qualquer time grande do exterior. A razão é simples: o mundo passou a tratar o futebol como um negócio, estruturado e com gestão responsável, praticado por superatletas, alfabetizados e preparados por técnicos cultos e inteligentes. Resultado: o futebol do mundo cresceu e o do Brasil estagnou…
A soma de protecionismo, dirigente despreparado e sem ética, empresário mercenário, atleta malandro e antiprofissional, técnico amador e clube não-empresarial só podia dar no que deu. A decadência é absurda, como mostra o atual ranking da Fifa: Brasil na sexta posição. Uma ressalva, porém: ainda há gente honesta e competente no futebol brasileiro; não fosse isso, a coisa estaria muito pior.
Por tudo isso e mais um pouco, o futebol que vimos nas duas últimas semanas, tanto na Eurocopa quanto no da Copa América, parece um outro esporte se comparado por aquele praticado pela maioria dos times brasileiros. Para encerrar: na final da Copa América, vi Lionel Messi sentado no banco de reservas, chorando. Foi substituído em função de uma pancada no tornozelo que lhe rendeu um enorme caroço. Não chorava de dor. Chorava por não poder estar em campo ajudando o seu país a ser campeão. Neymar, Vinícius Júnior ou Endrick fariam o mesmo?
Daniel Andriotti
Publicado em 19/7/24