Sinal de fumaça… on line

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Já falei sobre isso outro dia, aqui nesse mesmo espaço, mas volto a digitar na mesma tecla: eu garanto que o Brasil tem o pior e o mais caro serviço de telefonia celular do mundo, independente de qual seja a sua operadora. Antes de provar o que estou afirmando, experimente observar por alguns segundos o semblante das pessoas que estão no interior de uma loja ou de uma central de atendimento ao cliente de qualquer uma delas. Três em cada três, vão demonstrar claramente expressões de irritação e de inconformismo, beirando o descontrole emocional, dependendo do caso. Por que será? Ou então: experimente ligar para qualquer operadora e contestar o valor cobrado. Ou o cancelamento da linha…

Mas vamos para uma rápida e prática amostragem: de carro, a uma velocidade média de 80 km/h, vai-se de Guaíba a Alegrete em mais ou menos seis horas, considerando aquela paradinha para o café e um xixi. Isso porque são cerca de 500 quilômetros pela BR-290. Em toda essa extensão, passando pelo território de pelo menos 10 cidades – algumas delas de médio porte como Cachoeira do Sul e São Gabriel – se você conseguir obter sinal para utilizar o seu telefone celular por 50 quilômetros, intercaladamente, é claro, será um privilégio. Ou seja, 10% de todo o trecho. E não estamos falando de uma estrada de chão batido no meio do nada. Trata-se de uma rodovia federal que parte o Rio Grande ao meio de ponta a ponta. Isso significa que você terá a possibilidade de ler ou enviar mensagens, buscar alguma informação no Google ou ligar para alguém por apenas 36 minutos da sua viagem de seis horas.

Essa tese, mesmo que não-científica, eu desenvolvi e tenho pouca paciência para contestações. Fiz e refiz a medição nesse mesmo caminho por diversas vezes. Detalhe: se a viagem for com chuva, reduza em pelo menos 20% desses 36 minutos que o seu celular ficará ‘on line’. Então: caso ocorra uma pane mecânica com o seu veículo ou qualquer outra emergência e você precisar pedir ajuda por telefone, torça para que esteja num dos raros trechos dessa estrada em que o sinal – mesmo que fraco – se faça presente. Talvez não seja exatamente dentro do veículo que vai haver essa possibilidade. É provável que você tenha que caminhar alguns metros no meio do campo às margens da estrada, passar por uma cerca, invadir uma propriedade rural, subir num morro, numa pedra, numa árvore… Caso contrário, tente atacar outro veículo cujo motorista tenha um bom coração (coisa rara no atual mundo antagônico, violento e egoísta que estamos vivendo) ou apelar para o velho e indígena sinal de fumaça. Estamos no século XXI. Se não há sinal de celular, resta o sinal de fumaça…

 

* * *

Difícil dizer em que outro momento da história o jornalismo sério, ético, sensato, investigativo e imparcial viveu momentos tão difíceis. As polarizações, as descrenças pela politização de tudo, os interesses em defesa das ideologias, as fake news, a confusão que as redes sociais provocam na cabeça de quem não consegue – ou não quer – compreender os muitos lados de uma mesma questão, transformaram o mundo da comunicação numa linha muito tênue entre a verdade e o absurdo. E para piorar, veio a pandemia, que praticamente reinventou o jornalismo. Mas a vacina mais eficiente contra isso – graças a Deus – continua sendo a credibilidade. Pense nisso nesse 21 de abril que em todo o país se comemora um feriado, mas ninguém sabe ao certo quem foi Tiradentes. Como vivia? Do quê se alimentava? – diria Sergio Chapelin na abertura do Globo Repórter. E dia 22 é aquele que, em 1500, Cabral e suas Caravelas aportaram em Porto Seguro, dando início à saga desse velho, surrado e roubado Brasil. Talvez comemorar não seja uma boa ideia nesse momento…

Daniel Andriotti

Publicado em 21/4/23

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