Silêncio, agora vai falar o Ranzolin

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Em uma daquelas saudosas conversas filosóficas presenciais com um grupo de amigas, anos atrás, falávamos sobre a passagem do tempo e as mudanças que esse movimento contínuo e de mão única acarreta em nossas vidas. E um variado leque de opiniões se abriu, foram muitos os comentários expostos ao mesmo tempo, cruzando aquela mesa e se atravessando entre xícaras de chá e fatias de bolo, em alto e bom som.

De repente, por meio de voz serena, foi lançada uma verdade simples que transformou a euforia em profunda quietude, colocando-nos em espontâneo estado de reflexão. Foi quando uma das amigas falou baixinho, quase balbuciando, que as perdas são as grandes tristezas causadas pela viagem do tempo. E o nosso repentino silêncio se fez concordância unânime.

Retornando às conversas, definimos que as referidas perdas não representavam apenas as pessoas que mais amamos, porque estas são indiscutíveis. O que nos trouxe de volta à oralidade filosófica foram outras perdas, aquelas que representam parte da construção do nosso universo social, como as manifestações artísticas e culturais, os esportes, certas belas atitudes que desembarcam na estação do esquecimento.

Lembrei daquela conversa minutos atrás, assistindo matéria televisiva em homenagem póstuma para Armindo Antônio Ranzolin, grande narrador e comentarista esportivo do nosso Estado. E, sentindo a perda do talentoso radialista, mesmo sem jamais ter falado com ele, sequer tê-lo visto, percebi que aquela vida, através do trabalho bem realizado, fez parte de momentos importantes para as vidas da minha família.

Quando nos reuníamos todos, em volta da mesa, para o almoço de cada dia, gostávamos de conversar. Ainda criança, adorava aqueles momentos depois da escola, de comida caseira e de ouvir sobre novidades contadas pelos adultos. Esperando o infalível pedido dos meus irmãos, apoiado pela mãe, sobre todos nos calarmos para ouvirmos os comentários esportivos de um grupo seleto de comunicadores, entre os quais, o Ranzolin; primeiro, na Rádio Guaíba, depois, na Rádio Gaúcha.

Muitas vezes, encerrando um almoço com animadas conversas, esperávamos pela sobremesa em respeitoso silêncio, ouvidos ligados no radinho de pilha dos irmãos, para saber sobre os últimos acontecimentos do futebol.

Verdade seja dita, a passagem do tempo traz muitas mudanças, foi sobre isso que eu e um grupo de amigas, anos atrás, tivemos uma conversa inesquecível. Quando uma delas disse que as perdas são as grandes tristezas causadas pela passagem do tempo, nossa concordância unânime se traduziu em quietude.

Lembrei daquele encontro filosófico assistindo homenagem póstuma para o grande narrador e comentarista esportivo Armindo Antônio Ranzolin. Lá em casa, nos conversados almoços de cada dia, ele era o único que conseguia o nosso silêncio.

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 19/8/22

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