Setembros, Dilúvios e Ilusões

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Não lembro de um setembro tão molhado – tão triste, porém solidário – quanto esse. Recorde de volume de chuvas aqui, em Porto Alegre, na região metropolitana, no interior do Estado. Tanto que o Guaíba (seja rio, seja lago) já atingiu a segunda maior marca desde 1941 – essa sim – considerada como a maior enchente de todos os tempos.

Desde criança ouço falar da enchente de 41, que desabrigou quase 70 mil pessoas na capital. Foram 22 dias de chuvas torrenciais que resultaram em impressionantes 619,4 milímetros. Repito: em 22 dias. Para se ter uma ideia, nos últimos quatro meses desse inverno que terminou sábado, tivemos um volume de 652 milímetros de chuva – um dos maiores desde 1961. Ou seja: quase a mesma quantidade daquelas três semanas entre abril e maio de 1941. Naquele ano, as águas do Guaíba subiram tanto que atingiu a marca de 4,76 metros de altura, registrada nas paredes do Mercado Público e em alguns prédios da rua da Praia e do centro histórico.

Depois veio a segunda inundação – até então – mais comentada: a de 1967, ano em que eu nasci. Pelo que se sabe, naquela enchente a água chegou a altura de 2,83 metros. Muito provavelmente tenha sido esse o fator predominante para a decisão de que fosse construído um muro de contenção (antes polêmico, hoje nem tanto…) no início da década de 70, que pudesse ‘proteger’ a cidade das investidas do rio. Em 2015, nova chuvarada e a marca chegou a 2,86 metros. E então foi ‘inaugurado’ o fechamento das 14 comportas existentes junto ao muro da Mauá, fato repetido na última segunda-feira pela segunda vez nos últimos oito anos. Isso porque o nível do Guaíba já estava a 2,73 metros de altura, a quarta maior marca da história. No entanto, ao meio dia da última quarta-feira, a régua bateu nos 3,17 metros!!!

Como se não bastasse, nós, guaibenses, eldoradenses, porto-alegrenses, barrenses, tapenses… ainda sofremos com o vento quadrante sul que costuma soprar após longos períodos de chuva. De acordo com os especialistas, ele faz com que haja um represamento das águas na Lagoa dos Patos impedindo que o velho Guaíba tenha uma vazante normal em direção ao mar. Até o momento em que escrevo essas mal traçadas linhas, o Rio Grande do Sul contabilizava 51 mortes e dezenas de pessoas desaparecidas em decorrência da chuvarada dos últimos dias, especialmente na região central do Estado. É o maior número de mortes num evento climático em terras gaúchas em todos os tempos.

Mas por que isso acontece? Os desastres naturais têm alguma explicação? Difícil precisar. Várias são as causas das enchentes urbanas, por exemplo. As principais, além – é claro – do excesso de chuvas por vezes causado por algum tipo de desequilíbrio ambiental, são solos impermeáveis, a quantidade de lixo nos bueiros, os erros de projeto (drenagem insuficiente), a falta de saneamento e a ocupação irregular dos espaços que deveriam servir como escoamento. Hoje, as soluções para catástrofes do tipo inundações, são complexas, burocráticas, caras. Antes era mais simples: bastava construir uma arca…

 

* * *

O golpe está aí, cai quem quer: não há um único colorado que não esteja iludido nesse momento. Agora o pensamento está no tri da Libertadores e, por consequência, no passaporte para mais uma final de Mundial Interclubes, que esse ano será na Arábia Saudita entre 12 e 22 de dezembro. Mas essa é uma outra história. É assunto para o Inter do futuro…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 29/9/23

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