Entre as melhores lembranças da adolescência, está o primeiro de janeiro de cada ano em que seguíamos para Pinhal, a pequena grande praia que todos adorávamos. Na chegada, eu e meus primos corríamos para escrever o nome da primeira pessoa que cada um havia abraçado logo depois da meia-noite. Gostávamos de ler os nomes escritos em anos anteriores nas paredes de madeira da antiga garagem. Éramos todos jovens de um tempo em que a felicidade se mostrava pouco exigente, nos acompanhava em todos os lugares.
Pensávamos que aqueles inícios de ano se repetiriam para sempre, mas, quando nos demos por conta, a casa da pequena praia já estava no passado, nossas escritas juvenis transportadas naquelas paredes frágeis. Porque assim é a vida, precisa cumprir sua tarefa natural de tudo transformar.
Tempo seguindo em frente, passagem de ano então acontecendo em nossa casa. Família nova em construção, fazíamos questão de preparar a ceia para receber pessoas queridas que já estavam envelhecendo. Integrada naquele novo mundo adulto e cheio de responsabilidades, jovem esposa e mãe de uma menininha, meu coração se enchia de alegria ao receber a mãe, a irmã adotiva, tias, sogro e sogra, amigas e amigos desses nossos parentes que ficariam sozinhos na noite festiva. Preparávamos lentilha, para garantir prosperidade; e um punhado delas, ainda cruas, ficavam à disposição para quem quisesse guardar na carteira, mantendo a tradição de um grupo de convidados.
Nem cogitávamos que algum janeiro pudesse ter início sem o preparo e o compartilhamento da ceia com aquela gente que aprendêramos a amar, pessoas que tanto nos ensinaram sobre a própria vida e a felicidade que habita nesses encontros.
Mas outros janeiros foram chegando, e a vida nos mostrando que precisava seguir seu curso, sinalizando outra vez que nada e ninguém poderiam impedi-la.
Coração tatuado de nomes e momentos únicos, imitando a vida e aceitando o destino, eis que me encanta a chegada de mais um janeiro. Quero recebê-lo com amor no coração, na companhia da família, brindando por todas as lembranças que ficaram com as adoráveis vidas novas que se agregaram feito milagres.
Aceitando que a existência segue um curso natural e inevitável, agradecendo por tantos momentos que tem me proporcionado.
Seja muito bem-vindo, 2025!
Cristina André
Publicado em 27/12/24
