“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. Essa frase está entre aspas porque não é minha. É do moralista francês La Rochefoucauld, que viveu entre 1613 e 1880. Notem que eu escrevi ‘moralista’. Portanto, caro leitor, se você é fanático por algumas ideologias, recomendo que pare de ler por aqui. Eu vou entender…
E essa frase acionou um gatilho para eu falar da inversão de valores sob a ótica da minoria. Salvo raras exceções, a esquerda subverte a interpretação constitucional dando um peso maior aos direitos das minorias, sob o pretexto de proteção e de igualdade em seus direitos. Se isso fosse verdade, estaria tudo certo. Mas na minha opinião, essa é uma tese cínica. E o motivo é simples: ocultar uma agenda radical e revolucionária, uma vez que excesso de transparência não vence eleições. E assim se estabelece a manipulação dos micros segmentos sociais – negros, índios, artistas, identidades de gênero… – cooptando a todos sob a falácia de que eles estão sendo desrespeitados.
Frequentei a universidade na segunda metade dos anos 80. Recém estávamos saindo de uma ditadura militar de 20 anos e que ainda deixava algumas feridas abertas. E num curso de comunicação social – cuja maioria ainda hoje é formada por simpatizantes da esquerda, mesmo que numa instituição privada – é lógico que discutíamos acirradamente sobre questões que envolviam um ‘novo Estado Democrático de Direito’. E nessas ‘resenhas’ alguns colegas, entre os quais eu me incluía, já defendiam que o direito das minorias deveria sim, evidentemente, ser respeitado. Mas jamais poderia se sobrepor ao direito da maioria, sob pena de colocar em xeque a bússola de uma ‘nova república’. Fomos votos vencidos. Rei morto, rei posto. Nos últimos anos, essa subversão à lógica foi utilizada pela esquerda de forma unilateral para segmentar a sociedade, enfraquecer as famílias, desacreditar pessoas sérias e idôneas e desqualificar quem pensa diferente dela. Aliás, o manto da democracia nos discursos esquerdistas é outra farsa: assinam cartas de apoio ao mesmo tempo em que defendem ditaduras comunistas, como a do tirano Nicolás Maduro, na Venezuela; além de retroalimentar o culto da relação umbilical com Cuba.
Nesse mesmo contexto os movimentos sociais também viraram instrumentos de manobra. É claro e evidente que quem está a frente de algumas dessas siglas sabe muito bem o que são virtudes, mas prefere rejeitá-las diante de um grande tabuleiro oportunista. O MST é o exemplo mais explícito. Isso porque a esquerda esquece de combinar suas grandes mentiras com quem realmente necessita. Ela quer o poder para desfrutar dos benefícios de um Estado inchado, grande, com pouca mobilidade e corrupto por natureza num indisfarçável sistema de agressão permanente ao princípio democrático. E verdade seja dita: nesse quesito a direita não é muito diferente, só que ela fala abertamente sobre isso.
De quatro em quatro anos os esforços da esquerda me parecem patéticos aos desatentos: vão às missas, rezam o Pai Nosso e utilizam bandeiras do Brasil, numa traição ao sistema em que a cor da bandeira a ser venerada e empunhada é a vermelha. Se fossem sinceros, deixariam bem claro que desprezam o patriotismo, visto como um sentimento fascista do “pequeno burguês”. Daqui a pouco, em época de eleição, vão sugerir que não é hora de falar sobre o aborto, irão criticar o uso de drogas, a ideologia de gênero, o desencarceramento, o controle da mídia/internet, os ladrões de celular e o financiamento de ditaduras. E mais, dirão que admiram o trabalho da polícia e que bandido deve ser tratado como tal, esquecendo que suas lideranças sempre agem para abrandar punições aos marginais enquanto demonizam a ‘letalidade’ da atuação policial.
Ando meio preocupado porque não sou bandido. Sou branco, hétero e de olhos azuis. Talvez eu seja maioria, certo? E nesse caso, quem fará alguma coisa por mim?
Daniel Andriotti
Publicado em 28/4/23