O Natal é uma festa de família, onde a história estaciona na volta da mesa. Mães e tias ficam eufóricas e tios soltinhos; as avós ganham ainda mais brilho e os avôs recontam histórias manjadas. Crianças turbinadas com brinquedos novos dão rodopios e gritos agudos. As mulheres apresentam pratos com nozes e passas de uva, sintonizadas com o espumante, enquanto os homens navegam nos devaneios da cerveja. Primos fazem gracinhas desafinadas, enquanto as primas exibem seus cabelos lisos com luzes. E assim a festa segue efervescente.
O mais bacana dessa algazarra é o encontro, a celebração do enredo vivido juntos. Em geral, só percebemos o quanto a festa de Natal é significativa quando abrimos álbuns de fotografias lá na frente e recordamos momentos com pessoas que importam, com quem dividimos histórias.
Os que partiram
Quando lembramos dos que partiram, nos sentimos tristes pela saudade que dá nó no peito. Com o passar do tempo, aprendi que o melhor a fazer é conviver com a saudade, chorando sozinho se for o caso, mas também lembrar dos momentos bacanas vividos juntos, pois muito da nossa felicidade está em fazer os outros felizes.
Então, pensando em mim, quando partir, que isso aconteça daqui a muitos e muitos anos, vou querer um chorinho de saudade, sim, para sentir que faço falta, mas o que vou gostar mesmo é de ser lembrado em momentos de alegria, aí, lá onde eu estiver, terei certeza de que ainda vivo.
Um filme que me tocou
Eu não conseguiria viver sem música, livros e cinema. Já pensei sobre isso e concluí que não sobreviveria sem estre trio.
Já publiquei aqui na coluna uma lista dos meus 40 filmes preferidos. Mas faz um tempo e a relação aumentou. Histórias que me impactaram e de certa forma ajudaram a formatar a minha vida.
Estes dias, assisti Nomadland, um drama norte-americano de 2020, escrito e dirigido por Chloé Zhao. A atriz Frances McDormand tem uma interpretação tão perfeita que nos coloca no filme, viajamos com ela. É espetacular.
O filme ganhou Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz (McDormand), de um total de seis indicações. Ganhou, também, outros prêmios do Cinema.
Eu tenho que ter cuidado quando comento sobre filmes para não contar o final. Mas quando escrevo fica mais fácil de controlar a ânsia de contar o final.
Após o colapso econômico de uma cidade empresarial na zona rural de Nevada (EUA), Fern (Frances McDormand) faz as malas e parte para a estrada em sua van, explorando uma vida fora da sociedade convencional, como uma nômade moderna. E aí segue uma mistura de histórias e sentimentos humanos.
Uma cena que me tocou, entre tantas, foi quando a Fern sozinha à noite, na cama improvisada em sua van, olhava fotos da família, relembrando momentos marcantes. De repente, ela fixa o olhar em uma das fotografias com a imagem do marido já falecido e mergulha na saudade, liberando memórias. Pensei nessa cena quando escolhi o tema desta Coluna. O que vale, de verdade, são os retratos da vida, como esses que vivemos nas festas de Natal.
Corrosão na Casa do Povo
Agora, vamos para o outro lado. Quem desejar ficar com o clima natalino deve ler o texto a seguir na segunda-feira. Avisei.
Se eu fosse um novato cobrindo eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Guaíba, certamente ficaria assombrado com o que aconteceu na sessão de terça-feira, 21. Mas como acompanho a função há 35 anos, não me assusto, apesar da carga de desalento que se renova a cada eleição dessas.
Os bastidores são pesados; em geral, a palavra é só enfeite e as negociações são movidas a cargos, num jogo de quem dá mais. O Legislativo como puxadinho do Executivo vem de longe e não se limita a Guaíba. Esta prática se repete nas câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso Nacional.
Durante as justificativas de votos, a oposição, que se portou de forma doce durante a maior parte do ano, azedou. Na Tribuna, os vereadores do PTB e o vereador Manoel Eletricista, do PSDB, revelaram como foram as negociações com o Marcos SJ, do DEM, nos bastidores; contaram sobre as ofertas de cargos, as críticas cruzadas entre o Marcos e o Collares. Teve lavação de roupa suja no QG da oposição. E a indignação com acordos quebrados avançou na sessão, com ofensas e deboche de porão, do tipo “aceita que dói menos”. Constrangedor.
Resumo da bufa: se fossem cumpridos os acordos feitos no início das legislaturas e se o Poder Legislativo fosse independente, provavelmente se evitaria manifestações deploráveis na Casa do Povo.
Que o Marcos SJ consiga fazer um bom trabalho, valorizando a Câmara de Vereadores, como prometeu.
O Chacrinha finalmente assumiu que pulou a cerca, passando para a situação. Espera por uma secretaria em 2022.
O Ale Alves cumpriu a palavra de não votar em candidato que mantivesse os cargos polpudos da Mesa Diretora. Ele está na expectativa de receber a Secretaria da Causa Animal, a ser criada no ano que vem.
Sperotto no PSDB
O ex-prefeito de Guaíba, José Sperotto, assinou ficha no PSDB. O novo tucano prepara o ninho para concorrer a deputado estadual em 2022.
Balanço Político
Na próxima semana, farei um balanço político do ano. A Gazeta Centro-Sul trará a sua tradicional Retrospectiva. Feliz Natal e até lá!
Leandro André
leandro.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 24/12/21.