Quem tem medo do lobo mau?!…

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Nesse fim de semana de eleições, fiquei orgulhoso do meu país. Fomos protagonistas de um momento cívico que comprovou a solidez das nossas instituições de Estado. Eu sempre acreditei na maturidade democrática que alcançamos. A constituição foi devidamente referendada.

Muito se fala na expressão cunhada há mais de 200 anos pelo filósofo francês Joseph-Marie de Maistre: “Cada povo tem o governo que merece.” Faço uma adaptação dizendo que cada povo tem o governo que cabe na sua cultura cidadã que, por consequência, está intimamente ligada ao grau de educação e entendimento da estrutura de Estado, de Nação e dos sistemas políticos e constitucionais.

Já tinha alinhada a pauta e o texto da coluna de hoje, mas, na madrugada da última segunda-feira, acordei com uma pergunta muito louca na cabeça: Quem tem medo do lobo mau?!… Encucado com a indagação, passei o dia todo remoendo e tentando entender a origem dessa interrogação. O que significava isso? Qual a razão desse devaneio?

Para minha surpresa, na madrugada seguinte, acordei de um sonho mais louco ainda! Pois então!… Vou contar. Estava numa consulta médica derramando um manancial de “lamúrias e sofreres” que nem eu imaginava sentir. Mas… Perguntar por que eu sonhei com o “medo do lobo mau” foi cômico. Vejam só… A médica do sonho era a clínica de família que me trato do pós-covid. Para bem da verdade, parte da conversa sonhada teve raiz numa das últimas consultas, quando discutimos as sequelas da covid. Ela me disse mais ou menos assim: “Isso é perfeitamente compressível e nada de assustador. A pandemia de coronavírus acentuou um medo inconsciente da morte. Estudos apontam muitas sequelas na área emocional.”

Procurei refletir sobre os sonhos à luz da conjuntura atual, ou seja, os febris debates políticos dos últimos meses e as eleições. Aos poucos, ao caçar a origem dos sentimentos infantilizados de medo no imaginário popular, fui montando um quebra cabeça intrigante: Por que medo do lobo mau? Ou… Melhor!… A quem interessa esse temor?

É complexo! Para encarar essa pauta, convoquei minha turma de “avatares”. Pactuamos abordar apenas dois eixos para análise. O primeiro de cunho religioso: Tens que temer o “Pai”! Como é isso?! Por que ter medo do “Pai”? Qual é a verdade que está por trás desse amedrontamento? É para subjugar as pessoas aos interesses de outros através domínio do medo? É um semiplano pessoal criado pelo dominador para elevar seu poder pelo apavoramento? Será?

O segundo foi o medo ao comunismo. Interessante verificar que, normalmente, as pessoas que manifestam esse receio, desconhecem o que é um “Estado comunista”. Nem mesmo compreendem qual é a estrutura democrática de “Estado” no seu país. Lembrei-
me de Umberto Eco: “Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio.”

O temor pelo não conhecimento nos impede de evoluir. Não podemos deixar o medo governar nossas vidas. É difícil enfrentar o desconhecido. Mas, acredito que não tentar desvendar o que se ignora, seja bem pior.

“Podemos, facilmente, perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.” (Platão)

 

Túlio Carvalho

tulioaac@gmail.com

Publicado em 07/10/22

Comentários 2

  1. Eduardo Caldas says:

    O meu amigo arrasou nesse texto, ponderando adequadamente o psico, os pensares humanos, com os fatos presentes na atual história que estamos vivendo. Siga escrevendo assim, pois desse modo se faz a luz que o atual governo desse país tem nos negado. Parabéns!

  2. Breno Serafini says:

    E isso aí, Túlio, vamos lutar por um país sem lobos maus e chapeuzinhos vermelhos, cada um respeitando as diferenças ums dos outros irmanados num sentimento de nação. Abs

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