Terminadas as eleições posso falar desse assunto. Afinal de contas, o que é ser de esquerda ou de direita?
Na minha época de estudante universitário – ainda mais da área de comunicação – era um dever e uma obrigação ser de esquerda. “Se hay gobierno acá, soy contra”. Esse era o mantra. Não que eu fosse. Primeiro, porque nunca acreditei em milagres que nascem a partir de ideologias populistas. Segundo, porque as únicas coisas das quais eu tinha convicção, naquela época, é de que eu era hétero e colorado. Só isso.
Se, ser de esquerda era ‘cult’, ser de direita era reacionário. Até bem pouco tempo, os partidários que se colocavam contra as ações do atual regime vigente, também conhecidos por oposição, eram classificados como “de esquerda”. Por consequência, os defensores do governo, a chamada situação, eram os “de direita”. Mas então: o PT, por exemplo, sempre se posicionou como um partido “de esquerda”. Mas sempre que esteve na Presidência da República, seus correligionários, militantes e simpatizantes continuaram se considerando “de esquerda”? Como assim?
Então, fui recorrer à classe ‘politizada’ que – até que se prove o contrário, em cima do muro (ou de centro) – profetizou a definição: “a esquerda, independente de estar ou não no poder, tem o objetivo de promover a justiça social, lutando pelos direitos dos excluídos e das minorias menos favorecidas através da participação popular dos movimentos sociais e blá, blá, blá…”. Esse discurso é velho, chato e formatado diversas vezes de acordo com a direção do vento. E, ainda segundo eles, “a direita representaria uma visão mais conservadora, que trabalha pelo chamado liberalismo”. Também não se sustenta. Para mim, ambas são demagógicas. Esquerda e direita deveriam indicar programas contrapostos com relação a diversos problemas – não necessariamente sociais – cuja solução pertence habitualmente à ação política.
Quando estou em meio aos amigos ‘de esquerda’, consigo discutir política com alguns. Poucos, é verdade. Com outros – os da chamada extrema esquerda, e esses são a maioria – não tem jeito. Só eles falam, repetem um mesmo e único discurso e, quando me enganam que estão escutando, registram somente aquilo que lhes interessa. Por exemplo: outro dia me diziam que Aécio Neves, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer, os filhos do Jair Bolsonaro, entre outros, têm que ser presos. Eu concordei. Rimos juntos, alegres e satisfeitos. E realmente eu penso isso. Pedimos outra cerveja, fizemos uma pequena pausa e complementei que, melhor ainda se eles se tornassem colegas de cela de Lula e de Zé Dirceu, por causa de Mensalão, Petrolão, Escândalo dos Correios, Triplex, Sítio de Atibaia… Pronto. Azedou o diálogo. Fecharam a cara, se emburraram e já começaram com um inflamado comício: ‘cadê as provas?’; ‘Lula tirou 30 milhões da miséria e fez com que pobre andasse de avião’, ‘fora Alca’; ‘Fora Collor’, ‘RBS mente…’ E é nesse momento que vou saindo de fininho, com duas definições sobre esquerda e direita: a primeira é de que o problema são os ambidestros. E a segunda é a de que continuo sendo… somente hétero e colorado.
Daniel Andriotti
Publicado em 1/11/24