Aguardando pelo início do show, na plateia do Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre, no final de agosto, ao lado do parceiro de uma vida inteira, pensamentos me levaram a dois antigos festivais de música que aconteciam no Brasil nas décadas de setenta e oitenta. Deles, veio a poesia musicada que adotei como parte da trilha sonora que me acompanha desde aqueles nossos dias estudantis, de existências acontecendo em plenitude presencial.
Naquele ano quase encerrando uma década, a canção que ficou em terceiro lugar na escolha oficial do “Festival 79 – É Hora de Cantar” conquistou o público presente e muitos jovens brasileiros que acompanhavam à distância pela tevê. “Bandolins”, do novíssimo compositor e cantor Oswaldo Montenegro, vindo da Capital Federal, surpreendeu e arrebatou corações de maneira definitiva.
“Como fosse um par que nessa valsa triste se desenvolvesse ao som dos bandolins. E como não, e por que não dizer que o mundo respirava mais se ela apertava assim seu colo. E como se não fosse um tempo em que já fosse impróprio se dançar assim, ela teimou e enfrentou o mundo, se rodopiando ao som dos bandolins.
Como fosse um lar, seu corpo a valsa triste iluminava e a noite caminhava assim. E como um par, o vento e a madrugada iluminavam a fada do meu botequim. Valsando como valsa uma criança, que entra na roda a noite está no fim, ela valsando só, na madrugada, se julgando amada, ao som dos bandolins…”
Oswaldo Montenegro venceu o MPB Shell, no ano seguinte, interpretando a belíssima “Agonia”, canção composta por Mongol. E reafirmou a admiração de parcela considerável daquela juventude que caminhava rumo ao futuro, passos firmes e pronta para a poesia, da qual eu fazia parte.
Eis que, na plateia do Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre, no final de agosto, ao lado do parceiro de uma vida inteira, de repente me senti naqueles festivais de música que aconteciam em outras décadas. Na plenitude presencial, emoção à flor-da-pele, acompanhei parte da minha trilha sonora passar pelo palco.
A vida é mesmo um presente!
Cristina André
Publicado em 06/9/24